DOS
ANTECEDENTES
Arqueólogos
e pesquisadores que estudam as civilizações pré-históricas em território
brasileiro, calculam que entre 40 mil e 12 mil anos a.C. já existiam grupos
nômades, caçadores e pescadores vivendo aqui. Provavelmente vieram da Austrália
e da Ásia.
As
pinturas e gravuras deixadas por eles são o testemunho de sua passagem. Esses
registros em diferentes suportes de pedra são chamados de arte rupestre ou
itacoatiaras. Estes suportes de pedra variam desde paredes e tetos de cavernas
a blocos no chão e ainda pedras nos rios e lajes a céu aberto.
Pintura rupestre - Sítio Arqueológico da Serra da Capivara - São Raimundo Nonato - Piauí
As
pinturas rupestres brasileiras mais antigas foram encontradas na região de São
Raimundo Nonato, no Piauí. São desenhos de animais, pessoas, plantas e objetos,
muitas vezes retratando cenas da vida cotidiana ou eventos cerimoniais.
Na
região de Lagoa Santa em Minas Gerais também se encontra arte rupestre com
cenas de caça com uso de flechas e armadilhas onde veados são aprisionados,
além do uso de rede com peixes, retratando movimento.
Pintura rupestre - Sítio Arqueológico de Lagoa Santa
Além
da pintura, outros sítios apresentam outro tipo de arte rupestre conhecido como
gravura, onde foi utilizada a técnica de abrasão ou raspagem das pedras,
resultando figuras em baixo relevo.
Abrasão - Figura de baixo relevo - Sítio Arqueológico Arruda - SC
Os
temas encontrados são bastante variados desde desenhos geométricos com formas
não representativas, além de pontos, traços e círculos de tamanhos e
combinações variadas. São também encontrados desenhos figurativos com
representações de pessoas, animais, árvores e outros objetos. Os estilos também
variam com figuras formadas apenas por linhas de contorno ou pinturas cheias,
além de pontilhados e aproveitamento do relevo da pedra para dar impressão de
volume.
Desenho em baixo relevo - Sítio Arqueológico Ilha da Aranha - SC
Contudo
a arte rupestre se constitui talvez no vestígio arqueológico mais difícil de
ser analisado, pois não conhecemos bastante o contexto social em que os
desenhos foram criados. É uma representação do mundo real, na forma de um
símbolo onde o significado pode variar muito de sociedade para sociedade.
O
desenho pode estar funcionando como meio de comunicação, como forma de magia,
como arte pura, como pré-escrita ou ainda como marcador de territórios. O que é
certo é que nessas representações já existe o impulso de produzir elementos
estéticos e o desejo de expressão de um pensamento ou de um sentimento. Por
isso podemos dizer que se trata de arte.
ARTE
MARAJOARA E TAPAJÓ
Na
região da Ilha de Marajó e na Bacia do Rio Tapajós há vestígios de culturas
amazônicas com alto grau de desenvolvimento na fabricação e na decoração de
artefatos de cerâmica. Dos índios Tapajós restou apenas os muiraquitãs,
pequenas esculturas de rãs em pedra, os machados polidos e uma cerâmica tão
elaborada que parecem verdadeiras esculturas.
Em
seu apogeu, a ilha de Marajó pode ter tido mais de 100 mil habitantes. Entre
eles artistas fabricavam objetos cerâmicos ricamente decorados, vasilhas,
estatuetas, urnas funerárias e adornos. Esses objetos sugerem que a cultura marajoara
atingiu alto grau de sofisticação e complexidade social e política.
Foram
encontradas grandes urnas funerárias, chamadas Igaçabas, decoradas com
desenhos labirínticos, em enormes aterros perto do lago Arari.
Os
objetos produzidos pelas culturas antigas estavam, muitas vezes, associados a
rituais que eram grandes espetáculos artísticos reunindo todas as manifestações
tais como: música, dança, adereços, vasos, urnas, estatuetas, que representavam
as crenças e as formas de expressão própria daquela cultura.
ARTE
INDÍGENA
Cerca
de 5 milhões de índios habitavam o Brasil antes dos europeus chegarem. A arte
aqui desenvolvida, embora ligada ao prazer estético difere da arte
contemporânea.
A
casa, a organização espacial da aldeia, os utensílios, os objetos de uso
cotidiano e principalmente aqueles ligados às cerimônias e rituais, estão
impregnados de um desejo de fazer coisas bonitas e agradáveis ao olhar, de modo
que sejam expressões simbólicas da cultura.
O
índio investe esforço e tempo na produção de um objeto artístico porque se
preocupa em adorná-lo de forma especial. A arte plumária e a pintura corporal
atingem grande complexidade em termos de cor e desenho, utlizando penas e
pigmentos vegetais como matéria-prima. A arte indígena reflete a busca do prazer
estético e de comunicação por meio de uma expressão visual.
Cerâmicas
com diversas finalidades, trançados como cestas, redes, utensílios e esteiras;
adornos plumários como mantas, cocares e máscaras; adereços de contas, de
pedras, de sementes, de cascas, de ossos, de dentes e de conchas; utensílios de
madeira; instrumentos musicais como flautas, chocalhos e tambores; e objetos
rituais, mágicos e lúdicos, demonstram como as diferentes culturas indígenas se
expressavam.
Os
grupos indígenas que até hoje mantêm sua tradições, como os Caiapós e os
Camaiurás, demonstram como a pintura corporal é uma forma de expressão
artística e uma linguagem visual em estreita relação com outros meios de
comunicação verbais e não verbais. Apresenta ainda outras funções como repelente
contra insetos e protetor solar. Possui também a propriedade mágica de espantar
maus espíritos.
É ainda
uma forma de expressão minuciosa que pode representar intenções pacíficas ou
guerreiras, sentimentos, situações festivas ou religiosas, importância social.
DOS
ANTECEDENTES EUROPEUS
Durante
o século 16, o Brasil e a própria América como um todo, passaram a ser ocupados por conta das necessidades
européias decorrentes da crise do Feudalismo.
Sofrendo
a influência portuguesa na formação de suas cidades e por conseqüência as
influências romanas deixadas em Portugal, o Brasil possui em sua conformação
urbana e arquitetônica muitas semelhanças com o modelo romano de urbanização. Basta
verificarmos o traçado reticulado imposto às novas cidades romanas nos quais se
cruzavam as duas principais vias: o Cardo e o Decumanus.
No
traçado romano a interseção entre estes eixos era sagrado, pleno de
significados, sendo inclusive a localização do fórum. Tal referência se tornou muito comum no Brasil
como podemos constatar em diversos núcleos urbanos do litoral ou do interior,
apresentados em diferentes escalas.
A
Praça XV de Novembro no Rio de Janeiro, a Praça Tiradentes em Ouro Preto, o
coração administrativo do país, a Praça dos Três Poderes, em Brasília
demonstram essa tendência.
Com
a desestruturação do Império Romano pelas invasões bárbaras, as cidades foram
abandonadas e perderam a sua importância. As grandes propriedades rurais
passaram a ser o centro das atividades humanas.
Começava
a chamada Era Feudal, onde o castelo, inicialmente construído de madeira e
depois de pedra passou a ser o centro político de onde o senhor feudal exercia
o seu poder. Perto dos castelos, a pequena vila, os servos, com suas casas de
madeira, um misto de habitação e celeiro.
Com
o passar do tempo ocorrem melhores colheitas o que permite um aumento
populacional tornando as pequenas vilas insuficientes para o abrigo de todos. Gradativamente
as cidades voltam a ser ocupadas e suas populações crescem cada vez mais
tornando críticas as condições higiênicas e sanitárias. Prosperam pestes e
endemias devidos aos dejetos e excrementos jogados a céu aberto esperando que
alguém os queimassem ou fossem naturalmente levados pelas chuvas.
Além
disso os europeus tinham também problemas em conservar seus alimentos por
períodos prolongados, fato que irá explicar a importância do contato com o
oriente e a descoberta das especiarias. Na busca desses produtos o comércio foi
intensificado pelas rotas mediterrâneas fazendo prosperar reinos, principados e
ducados situados principalmente na península itálica.
Era
o velho mundo feudal se transformando e se monetarizando, fazendo as moedas
circularem e a necessidade por metais preciosos aumentarem. Após o esgotamento
das minas européias, a solução foi buscar metais preciosos e especiarias em
áreas fora da Europa.
No
caso português que teve seu território invadido pelos árabes e mulçumanos, sua
população cristã conviveu com cidades nas quais o desenho de seus traçados eram
diferentes da racionalidade romana.
As
cidades luso-mulçumanas definiram seu centro cívico-administrativo em local
elevado. Deste modo se protegiam de ataques inimigos, pois além da posição
estratégica ainda eram defendidos por muralhas. As muralhas serão utilizadas
como defesa até a utilização da pólvora como arma de guerra. Dentro do espaço
fortificado ficavam o palácio do governante e outros espaços administrativos.
Descendo
o morro, uma cidade se esparramava, com um crescimento orgânico, com ruas
espontâneas, estreitas e sinuosas que cumpriam seu papel fundamental como via
de ligação, propiciando sombras abundantes e becos apertados e labirínticos que
propiciavam defesa à cidade.
As
casas eram voltadas para o interior com poucas janelas e formando bairros com
grande densidade. Portugal foi o primeiro lugar da Europa onde ocorreu a aliança
rei-burguesia.
Após
sua unificação como Estado Nacional, Portugal se lançou nas conquistas ultramarinas,
unindo motivações econômicas, religiosas e práticas como a busca de
especiarias, ouro e pescado.
Após
conquistarem a rota do Oriente pelo sul da África, desbancando a rota
mediterrânea, os portugueses chegarão em breve ao Brasil. Ao ocupar novas terras
significou também novos hábitos e novas regras tais como as de ordenação das
ruas das novas cidades.
Já
durante o reinado de D.Manuel I a racionalidade determinou a ordenação dos
traçados urbanos, fazendo o Brasil conviver com dois sistemas de traçado
urbano.
DA
OCUPAÇÃO EUROPÉIA
Como
sabemos a primeira riqueza encontrada pelos portugueses na nova terra foi o pau
brasil.
Para
permanecerem aqui e retirar a madeira foram criados pelos colonizadores núcleos
de povoamento denominados feitorias, com cerca de vinte homens e que serviam como
ponto de chegada. Eram formadas por um conjunto de pouquíssimas casas de
madeira e palha protegidas por uma paliçada também de madeira.
Por
aqui pouco se usou a pedra como era costume em Portugal, certamente pela abundância
de madeira existente. Após 1530 um outro produto surgia no cenário
possibilitando a implantação de uma economia organizada: a cana-de-açúcar. Os
portugueses já dominavam todas as etapas do cultivo e manipulação desse produto,
pois já tinham experiência anterior em ilhas do Atlântico. A partir daí passava
a haver condições para a ocupação efetiva daquele imenso território gerando
lucros significativos que justificariam todos os esforços para sua colonização.
ARTE
E ARQUITETURA EUROPÉIA NO BRASIL
A
OCUPAÇÃO DA TERRA
Apesar
de toda a riqueza e simbologia da arte existente no Brasil antes da chegada do
europeu, essa produção não foi devidamente valorizada. Os europeus nem
acreditavam que os povos aqui encontrados tivessem “alma”. Esse preconceito foi
tão forte que somente no século XIX a cultura pré-cabralina e a indígena
começaram a ser reconhecidas e estudadas.
Por
mais de trinta anos após o descobrimento, apenas algumas expedições de
reconhecimento e patrulhamento vinham até a nova terra. Com os donatários e
governadores das Capitanias Hereditárias, começaram a chegar ao Brasil, em
1534, nossos primeiros habitantes europeus: religiosos, desbravadores,
artilheiros, órfãos, cristãos novos, escravos e mercenários.
A
preocupação das autoridades portuguesas desse período era ocupar o território
para defendê-lo, ensinar sua cultura e sua fé aos primitivos e manter junto aos
europeus suas próprias raízes religiosas e culturais. A Igreja Católica
(jesuítas, beneditinos e franciscanos) era responsável pelas manifestações
artísticas e o governo se encarregava das construções militares de defesa do
território.
Quando
os portugueses começaram a se estabelecer no Brasil, a arte na Europa estava em
transição e começava a se deslocar do estilo renascentista, que pregava a
razão, em direção ao Barroco que era todo emoção.
Cidades
foram implantadas como São Paulo em 1554, originando-se de um colégio de
jesuítas, São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1565, para servir de base na luta
contra os franceses e Filipéia na Paraíba em 1584. Esses núcleos não possuíam
muralhas, pois a chegada da pólvora demonstrara a inutilidade de tal proteção.
É
importante ressaltar o trabalho dos jesuítas na ocupação territorial tendo se
destacado não somente em São Paulo mas também no Paraná coma fundação de
algumas reduções sendo as duas primeiras São Loreto e Santo Inácio.
A
ARQUITETURA COLONIAL PARA DEFESA E DEVOÇÃO
A
arquitetura foi a primeira manifestação artística portuguesa em território
brasileiro. Foram construídos fortes e igrejas em muitas das quais, as pedras
eram enviadas de Portugal como carga de retorno. Essa arquitetura colonial de
herança portuguesa influenciava a todos os artesãos que aqui viviam e tinham na
arte européia seus modelos e mestres.
Com
a dificuldade natural de recursos, muitas construções tinham seus projetos
alterados durante as obras, passando a combinar aspectos neo-clássicos com
barroco.
Com
a intenção de fortificar e defender a costa brasileira, o Governador-Geral
manda vir de Portugal o mestre de pedraria Luís Dias com a tarefa de fortificar
a cidade de Salvador além de construir sua alfândega e casa de Câmara e Cadeia.
As
fortificações procuravam defender a costa brasileira dos ataques estrangeiros,
principalmente franceses, que pretendiam se instalar para dominar o território
e explorar suas riquezas.
Forte dos Reis Magos, atualmente com o dique em pedras para visitação turística
O
arquiteto Francisco Frias de Mesquita (1578-1645) construiu diversos fortes na
região do nordeste brasileiro, como a Fortaleza dos Reis Magos, em Natal, em
que o entrelaçamento com a religião fica evidente: o nome e formato da estrela
de cinco pontas, conveniente para oferecer dez pontos diferentes de visão.
A
PRESENÇA DOS JESUÍTAS
Igreja dos Reis Magos - Serra - ES
Os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 e construíram igrejas monumentais, seminários, escolas de catequese e de artes e ofícios. Essa presença deixou marcas desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul.
A
arte devia servir a Deus e transformar as cerimônias em espetáculos fascinantes
e sedutores. Entalhes, pinturas, ouro, prataria, estatuária, ricos tecidos
constituíam o cenário propício ao culto religioso. A luz de inúmeras velas
refletindo-se no ouro e nos objetos de prata criava um ambiente espetacular. Na
Europa, essa grandiosidade da Igreja fazia parte da Contra-reforma e tinha como
objetivo combater a influência e a expansão dos protestantes.
No
Brasil o objetivo era outro: favorecer a catequese, atraindo novos fiéis. Os
grandiosos templos, muitas vezes construídos em pequenas vilas, deviam atrair
não apenas os senhores proprietários de terras, mas toda a população do
entorno. Alguns imitavam fielmente igrejas de Lisboa e Itália.
MISSÕES
JESUÍTICAS
As
Missões ou Reduções surgiram por esforços diretos dos jesuítas junto aos índios
Guaranis, sem apoio financeiro dos reis de Portugal e da Espanha. A região em
que atuaram esses jesuítas ficava a oeste do atual estado do Rio Grande do Sul,
nos limites entre o Brasil, Argentina e Paraguai.
Durante
140 anos, essa região isolada das potências colonizadoras pôde desenvolver-se
sob o comando dos padres, com base numa agricultura comunitária ficando o tempo
livre dedicado à religião e à arte.
Vista da Fachada e lateral da ruína da Igreja de São Miguel das Missões - RS
As
igrejas missionárias representam ainda uma manifestação européia, revelada
através da habilidade dos arquitetos religiosos e da capacidade de assimilação
da mão-de-obra guarani. A escultura em pedra e madeira, bem como a pintura
desenvolveram-se com o objetivo de realçar as igrejas e as cerimônias
litúrgicas. Incorporavam-se à tradição européia figuras tipicamente tropicais,
como frutas e pássaros. Instrumentos musicais eram fabricados para servir à música
também criada com fins religiosos.
A
PRESENÇA HOLANDESA
Em
1630, os holandeses ocuparam Pernambuco e boa parte da região nordeste, de onde
foram expulsos somente em 1654. Nesses vinte e quatro anos de permanência, o
trabalho dos pintores holandeses foi a herança cultural mais notável.
Convidados
pelo príncipe Maurício de Nassau, vieram artistas que pela primeira vez
focalizaram assuntos desligados de temas religiosos. Paisagens,
naturezas-mortas, retratos, figuras humanas e de animais constituíram um grande
painel do Brasil no período.
Um
dos mais importantes entre esses pintores é Frans Post (1612-1680). Pintou
paisagens, vistas de portos e fortificações. O seu quadro “Vista de Itamaracá”
é considerado a primeira pintura que retrata fielmente o novo mundo.
“Vista de Itamaracá” - óleo sobre tela - Frans Post
Frans
Post tinha apenas vinte e quatro anos quando veio para o Brasil com a missão de
documentar em quadros a óleo as sedes holandesas no Nordeste. Permaneceu aqui
de 1637 a 1644, quando produziu pelo menos dezoito quadros à óleo em tela e
inúmeros desenhos.
Outro
artista holandês que veio com Nassau e aqui permaneceu por sete anos foi Albert
Eckhout. Um de seus temas prediletos era o habitante nativo do território
brasileiro. Os personagens retratados obedecem a um esquema estrutural
predominante, sendo vistos solitários, em meio à exuberante vegetação tropical,
numa composição vertical.
Um
quadro que foge à regra da verticalidade é “Dança dos Tapuias”, que representa
um grupo de indígenas dançando com seus tacapes, e alcança grande realismo e
senso de movimento. Eckhout produziu também várias naturezas-mortas de senso
figurativo avançado para a época e várias ilustrações científicas da fauna e
flora brasileira.
"Dança dos Tapuias" - óleo sobre tela - Albert Eckhout - Museu Nacional da Dinamarca
Esses
dois grandes pintores e desenhistas refletem o interesse que a Europa tinha
pelo exótico proveniente das novas terras descobertas. Embora tenham
incorporado nossos temas tropicais aos seus trabalhos, ainda representam a arte
européia feita por europeus no Brasil, e não uma arte propriamente brasileira.
Ao
lado dessa produção consagrada, temos as obras de vários pintores anônimos, que
não se preocupavam em nomear suas obras, geralmente feitas por encomenda. Um
exemplo é o painel Batalhas dos Guararapes que se encontra em Pernambuco.
A Batalha dos Guararapes - óleo sobre tela - Victor Meirelles de Lima - PE
A
presença dos holandeses no Brasil está diretamente associada ao interesse holandês
no açúcar brasileiro. Com a união ibérica, a Holanda, inimiga da Espanha, foi
impedida de comercializar com o Brasil. Assim decidiram invadir as zonas
produtoras de cana de açúcar, tendo fracassado em Salvador mas obtendo êxito em
Recife.
Atual Palácio do Campo das Princesas, arquitetura neoclássica - PE
Neste
período foi projetada a cidade Maurícia que hoje representa o centro de Recife,
com a abertura de canais e construção de pontes. É desta época também a
construção do Palácio de Friburgo, hoje Palácio do Campo das Princesas, sede do
governo pernambucano.
O
ESPLENDOR DO ESTILO BARROCO
Quando
os portugueses se estabeleceram definitivamente no Brasil, por volta de 1600,
estava entrando em vigor na Europa um estilo estético que se chamava Barroco. Os
seus princípios levavam os músicos, escritores, pintores, escultores a produzir
obras cheias de movimento, ornamentação e emoções contraditórias. Foi essa
forma de arte que trouxeram para cá e aqui desenvolveram por mais de um século.
A
arte barroca nasceu em oposição à arte renascentista, que se baseava na razão e
nos modelos greco-romanos de equilíbrio e simplicidade. Vários fatores
contribuíram para o clima social agitado que produzia essa arte excessivamente ornamentada.
O
intenso comércio entre vários países, a colonização de novas terras, as
invenções que abalavam crenças antigas, a nobreza que desejava mostrar o seu
poder e o clero religioso da contra-reforma que precisava se afirmar e combater
os protestantes.
Para
se nomear esse estilo adotou-se a palavra portuguesa “barroco” que significa
“uma pérola de formato irregular e aspecto estranho”. Os colonizadores
difundiram o Barroco ao levarem artistas ao Novo Mundo. Como características
fundamentais o estilo barroco apresenta:
Profunda emoção / ilusão
de movimento / temática religiosa constante / excesso de ornamentos / fortes
contrastes entre luz e sombra / presença de muitas curvas e dobras.
As
obras normalmente feitas em madeira, pedra-sabão ou argila apresentavam aspecto
brilhante ou fosco dependendo da tinta à óleo ou têmpera utilizada. Muitas eram
ornamentadas com finíssimos detalhes em folha de ouro, tinham os olhos de vidro
e traziam coroas de prata ou ouro. Algumas estátuas tinham pequenos cofres no
corpo que serviam para o contrabando de ouro e por isso ficaram conhecidas como
“santos do pau oco”.
As
imagens que eram feitas para serem carregadas nas procissões tinham apenas o
rosto, o pescoço e as mãos, pois a ilusão do corpo era dada por meio de roupas
montadas sobre uma armação de madeira, chamadas “santos-de-roca”.
Muitas
obras barrocas são anônimas, não se pode precisar quem foi o autor. Entre os
escultores mais conhecidos desse período está o português Frei Agostinho da
Piedade, que foi mestre do brasileiro Frei Agostinho de Jesus, também muito
importante no desenvolvimento da arte desse período.
O
AMBIENTE BARROCO
A
pintura no período barroco apresenta em suas características o excesso de
contrastes, ilusão de movimento, uso da perspectiva e abuso do claro escuro.
Entre
os primeiros pintores está Belchior de Paulo que trabalhou em diversas cidades,
deixando suas obras espalhadas de Pernambuco a São Paulo.
"Adoração dos Reis Magos" - óleo sobre tela - Belchior de Paulo - tela
original em restauração, ornamento do altar da Igreja dos Reis Magos - ES
O
pintor francês Carlos Belleville foi o responsável pela pintura do teto da
igreja de Belém da Cachoeira (1687), na Bahia. Durante o barroco as igrejas têm
seus tetos revestidos por uma pintura que dá ilusão de entalhes de madeira, de
profundidade, relevo e movimento.
Pintura sobre madeira - teto da Igreja do Seminário de N.Sa. do Belém - Cachoeira - BA
Os
artistas também imitam com pintura os azulejos portugueses, geralmente em tons de
azul. Os artistas deste período tinham múltiplas habilidades, ao mesmo tempo
eram arquitetos, escultores, entalhadores, pintores e atuavam em várias partes
de uma construção. Não existia ainda uma noção de “autoria”, muito valorizada
hoje em dia.
Os
artistas eram “artífices” ou “artesãos” que trabalhavam muito para ganhar a
vida. Contavam com a ajuda de auxiliares, muitas vezes mulatos, que trabalhavam
por qualquer dinheiro e ajudavam anonimamente a terminar obras que hoje têm um
valor incalculável e fazem parte do patrimônio cultural da humanidade.
Como
Salvador foi a primeira capital do Brasil, seus tesouros barrocos são
inestimáveis. Concentrando a riqueza do período de apogeu do açúcar, foi o
centro de comércio com a metrópole, Portugal, e por isso detém enorme
patrimônio artístico.
Igreja da Venerável Ordem terceira de São Francisco - Salvador - BA
A
igreja da Venerável Ordem terceira de São Francisco é um monumento que
testemunha o deslumbramento da época. A construção do convento teve início em
1587, mas foi destruído durante as invasões. Sua construção definitiva se deu
quase duzentos anos depois, em 1782.
O
Aleijadinho, e o Barroco em Minas Gerais
Entre
os maiores artistas desta corrente está Antônio Francisco Lisboa. Nasceu por
volta de 1738, em Vila Rica, atual Ouro Preto, filho de um arquiteto português
e de uma escrava. Mesmo com dificuldades, aprendeu a ler, teve noções de música
e latim e estudou arquitetura e desenho com os mestres da época.
Sofreu
durante anos de uma misteriosa moléstia que atrofiou seus membros, deformou
suas feições, obrigou-o a andar de joelhos e, quando perdeu os dedos das mãos,
a amarrar os instrumentos nos braços para esculpir a pedra-sabão e a madeira, morreu
cego e pobre em 1814.
Foi
o nosso maior artista do período colonial e suas criações vão de projetos
inteiros de igrejas a esculturas e entalhes delicados. Foi o criador das
estátuas dos profetas do Adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos em
Congonhas do Campo, MG.
No
Rio de Janeiro destaca-se o entalhador Valentim da Fonseca e Silva, o mestre
Valentim, que nasceu em Minas Gerais, mas viveu no Rio (1750-1813). Realizou
projetos urbanos, chafarizes, estátuas e desenhos para execução de prataria.
Chafariz da pirâmide - Mestre Valentim
A
cidade de Paraty no Rio de Janeiro também teve seu projeto urbano desenvolvido.
AS ORIGENS DO SENTIMENTO NACIONAL
Com o passar do tempo o impulso do exagero, próprio do Barroco, começa a ser suavizado. O excesso de curvas e de expressividade vai sendo atenuado para dar lugar a uma arte mais tranqüila e equilibrada.
Gradativamente
o estilo barroco vai sendo substituído pelas características neoclássicas. No
século XVIII, as manifestações populares de inspiração africana como o
bumba-meu-boi, os reisados e as danças típicas continuavam prosperando, mesmo
contra as ordens da Igreja. Além disso, na colônia era proibido criar escolas
superiores, tipografias e importar livros, pois não interessava a Portugal a
emancipação cultural do Brasil.
O
grande avanço ocorreu com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em
1808. Com a presença da Corte no Rio de Janeiro, o centro das atenções e dos
acontecimentos culturais e políticos se deslocam de Pernambuco, Bahia e Minas
Gerais para este novo centro.
A
sede da corte foi instalada no Convento do Carmo, sendo o prédio devidamente
reformado e adaptado e sua capela transformada em teatro e sala de concertos. Essa
mudança trouxe profundas transformações sociais, econômicas e culturais para o
Brasil.
D.
João VI, adaptado à nova sede do Reino, quis modernizá-la. Construiu o Teatro
São João (1812), liberou o comércio, os portos, as fábricas, as tipografias e a
importação de livros. Organizou a Biblioteca Real (60 mil volumes), criou o
Observatório Astronômico, o Jardim Botânico e o Museu Nacional.
Toda a arte produzida no período anterior à sua chegada foi considerada ultrapassada. Coincidindo com as mudanças ocorridas na Europa onde passava a predominar o gosto pelos valores clássicos do Renascimento, na busca do equilíbrio e da simplicidade, na imitação das linhas greco-romanas. Este estilo, denominado de neoclássico ou Academicismo passa a vigorar também no Brasil.
Toda a arte produzida no período anterior à sua chegada foi considerada ultrapassada. Coincidindo com as mudanças ocorridas na Europa onde passava a predominar o gosto pelos valores clássicos do Renascimento, na busca do equilíbrio e da simplicidade, na imitação das linhas greco-romanas. Este estilo, denominado de neoclássico ou Academicismo passa a vigorar também no Brasil.
A MISSÃO FRANCESA
O
Brasil não contava com mão-de-obra qualificada para promover a modernização
desejada pelo soberano. Por isso D. João VI contrata artistas franceses que
desejavam sair da França, pois tinham apoiado Napoleão, que, derrotado, estava
preso em Santa Helena.
A
chamada Missão Artística Francesa ao Rio de Janeiro (1816) vem chefiada por
Jacques Le Breton, que dirigia a Academia Francesa de Belas-Artes na França. Ele
trouxe pintores, escultores, arquitetos e músicos, além de artífices,
ajudantes, mecânicos, serralheiros, ferreiros e carpinteiros.
Embora
os “brasileiros” tenham reagido desfavoravelmente à “invasão” de artistas
estrangeiros, esses deixaram uma profunda influência na arte brasileira,
principalmente na pintura, na paisagem urbana e na arquitetura. Sobressaem
grandes pintores que nos deixaram uma visão detalhada dos costumes e vida da
época.
"Morro de Santo Antônio" - óleo sobre tela - 1816 - Nicolas Antoine Taunay
Nicolas
Antoine Taunay (1755-1830) chegou ao Brasil com a Missão (1816) e retornou à
Paris em 1821. Nesses poucos anos que aqui esteve produziu inúmeros quadros com
diversos temas: bíblicos, mitológicos, históricos, paisagens e retratos
infantis. Deixou mais de trinta paisagens do Rio de Janeiro.
"Vista do Outeiro, Praia e Igreja da Glória" - óleo sobre tela - Nicolas Antoine Taunay
Seus
dois filhos, também artistas, Félix Émile Taunay e Adrien Aimé Taunay, ficaram
no Brasil. Félix chegou a dirigir a Escola de Belas Artes e organizou a
Exposição Geral anual de Belas Artes.
Adrien
Aimé participou de expedições, desenhou índios e morreu afogado em um rio brasileiro.
Embrenhando-se pelas matas brasileiras com as expedições dos naturalistas e
desenhou nossos índios, mas terminou por morrer afogado em um rio no decorrer
de uma dessas viagens.
"Casamento de D.Pedro I e D.Amélia 1829" óleo sobre tela - Jean Baptista Debret
Jean
Baptiste Debret (1768-1848) foi o principal pintor da Missão Francesa, pois fez
um verdadeiro documentário sociológico, registrando um panorama da vida no
Brasil na primeira metade do século XVIII. Produziu retratos da família real e
cenas da vida cotidiana dos nobres, dos burgueses e dos escravos. Publicou três
volumes de textos e ilustrações a respeito do Brasil: Viagem pitoresca e
histórica do Brasil.
Gravuras de escravas - Jean Baptista Debret
O
escultor Auguste-Marie Taunay (1768-1824), irmão do pintor Nicolas Antoine,
além de diversas esculturas, ornamentou o Rio de Janeiro para as festas de
Aclamação de D. João VI como Rei de Portugal, Brasil e Algarve. (1818).
O
arquiteto Auguste Henry Grandjean de Montigny (1776-1850) é responsável por
importantes construções do período neoclássico. Seus croquis podem ser vistos
no Museu Nacional de Belas Artes.
Fachada da antiga Academia Imperial de Belas Artes
A
idéia de criação de uma escola de belas-artes veio com a família real e levou
algum tempo para ser realizada. Em 1816 funda-se a Escola Real das Ciências,
Artes e Ofícios, que vai sofrendo transformações no decorrer do tempo.
Passa
a ser chamada de Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura
Civil (1820) e Academia Imperial de Belas-Artes (1824) Finalmente, com um projeto de Montigny, é
instalada com esse último nome (1826), mais tarde mudado para Escola de
Belas-Artes. Tal influência estende-se por mais de um século nas artes
plásticas do Brasil.
Escola Nacional de Belas Artes - nanquim
Deu
origem ao Museu Nacional de Belas-Artes, que hoje ocupa magnífico prédio
construído em 1909 por Adolfo Morales de los Rios, no centro do Rio de Janeiro.
Escola Nacional de Belas Artes - atual Museu Nacional de Belas Artes
O
gaúcho Manuel de Araújo Porto Alegre, depois de ter sido aluno, dirigiu a
Escola de Belas-Artes de 1854 a 1857. Foi professor, crítico, poeta, escritor e
produziu desenhos e pinturas. Dedicou-se a caricatura e foi um dos seus
pioneiros no Brasil, quando dirigiu a revista Lanterna Mágica que, além
de humor e sátira, trazia conteúdo essencialmente político.
Artistas
brasileiros como Zeferino da Costa, Augusto Muller e Simplício Rodrigues de Sá
formaram-se sob influência de artistas franceses.
O
NASCIMENTO DA FOTOGRAFIA
Em
1820, os portugueses, insatisfeitos com a possibilidade de o Brasil
transformar-se para sempre na sede e metrópole do reino, fazem uma revolta no
Porto, em Portugal, e obrigam D. João VI a voltar a Lisboa. D. Pedro I ficou
como Príncipe Regente, mas o desenlace já era inevitável e, em 1822, proclama a
Independência.
Em
1831 o soberano é forçado a abdicar em favor de seu filho D. Pedro II, que era
ainda criança, dando início ao período das Regências. Nesse período surge uma
nova forma de registro de imagens que viria a influenciar a pintura.
O
francês Hércules Florence (1804-1879), em Campinas, imprime imagens a partir
dos efeitos da luz em 1832, antes mesmo que fosse considerada inventada a
fotografia.
Daguerreótipo -1839
Em
1840, o abade francês Louis Compte introduz a daguerreotipia no Brasil,
realizando uma série de três vistas das cercanias do Paço Imperial, na cidade
do Rio de Janeiro.
Foto: Paço da Cidade do Rio de Janeiro - Louis Compte - 1840
Entusiasmado
com a nova invenção, o Imperador D. Pedro II, então com 15 anos de idade,
encomenda um equipamento de Paris, tornando-se assim o primeiro brasileiro nato
a praticar a fotografia. Mais tarde torna-se um verdadeiro mecenas dessa arte,
atribuindo títulos e honrarias aos principais fotógrafos atuantes no país, além
de se tornar um grande colecionador. Formou a maior coleção particular de
fotografias e a mais diversificada de sua época.
O
AMBIENTE DO SÉCULO XVIII
Em
Recife, o neoclassicismo deixou também as suas marcas. O Conde de Boa Vista
contratou Louis Leger Vauthier, que construiu o Teatro Santa Isabel.
Joaquim
Cândido Guillobel (1790-1860), pintor português que veio ao Brasil junto com a
Missão Francesa, documentou, em desenhos pequenos, tipos e costumes da
sociedade da época.
A
PRESENÇA DOS CIENTISTAS
Além
dos artistas vindos com a Missão Francesa, muitos outros estrangeiros
trabalharam no Brasil. A arquiduquesa Leopoldina, que veio para se casar com D.
Pedro I, trouxe em sua comitiva diversos cientistas austríacos. Esses
naturalistas, interessadíssimos na natureza tropical, além de desenharem,
traziam outros artistas que registravam a paisagem, a fauna e a flora.
Os
cientistas Karl Friedrich Phillip Von Martius e Johan Baptist Von Spix, deixaram
diversos desenhos de suas expedições pelo interior do Brasil. Outras expedições
científicas de estrangeiros e brasileiros viajaram pelo interior do país,
produzindo obras de grande valor descritivo e iconográfico.
O
naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, de 1816 a 1822, percorreu grande
extensão do território brasileiro, pesquisando e desenhando a flora. Já
denunciava em seus trabalhos a devastação da natureza.
Em
1821 o naturalista alemão Georg Heinrich Von Langsdorff, cônsul da Rússia no
Brasil, comanda viagens a Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Amazonas e
Pará. Participam delas pintores como Hércules Florence, Adrien Haiti Taunay,
Johann Mortes Rugendas e Edward Hildebrandt. Rugendas fez expedições
independentes e publicou o livro Viagem Pitoresca no Brasil.
Como
vimos, a presença estrangeira define a produção artística no Brasil nesse
período e o Rio de Janeiro é o grande centro cultural, o que causa insatisfação
nas outras regiões. Ainda não existe uma arte genuinamente brasileira, mas o
sentimento nacional e o desejo de autonomia inspiram alguns artistas locais.
A
imitação de modelos clássicos começa a decair no gosto dos artistas e do
público e uma nova transformação se anuncia, mas a influência do academicismo
ainda perdura por muito tempo, principalmente na pintura.
A
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL
O
ROMANTISMO
O
estilo acadêmico e rígido do Neoclassicismo começa a declinar e vem uma reação
às regras e modelos clássicos greco-romanos. Há necessidade de expressão, de
emoção, de paixão.
O
equilíbrio e a simplicidade deixam de ser os objetivos do artista. Ele quer
demonstrar outros interesses, buscar as raízes da nacionalidade, enaltecer a
natureza tropical, voltar ao passado histórico, abandonar os mitos gregos, aprofundar
sua própria religiosidade e viver o amor intensamente.
Depois
da independência (1822) e da Abdicação (1831), os acontecimentos pela
consolidação do Brasil como nação autônoma levam à abolição da escravatura
(1888) e à proclamação da República (1889). Toda essa turbulência política se
reflete no ânimo dos artistas, que procuram, mesmo influenciados ainda pela
Europa, uma linguagem nacional. D. Pedro II trona-se um grande patrocinador e
incentivador dos artistas.
Com
a chegada do Romantismo, que introduz o indianismo (idealização da figura do
índio), o nacionalismo nas cenas épicas e subjetivismo nas paisagens, a pintura
histórica atinge o auge.
Victor
Meirelles (1832-1903), um dos principais pintores brasileiros desse período,
nasceu em Florianópolis, transferiu-se para o Rio em 1847 e estudou na Academia
de Belas-Artes. Ganhou um prêmio de viagem à Europa e dedicou-se à pintura de
paisagens.
O
paraibano Pedro Américo (1843-1905), aos 10 anos de idade, abandonou sua
cidade, Areia, e integrou-se já como desenhista, à expedição do naturalista
francês L. J. Brunet, que passava pela Paraíba. Seu extraordinário talento
demonstrado na Academia de Belas-Artes assegurou-lhe uma viagem de estudos à
Europa. Viveu temporadas em Paris e em Florença, onde faleceu. Fez magníficas obras
históricas por encomenda do governo brasileiro.
Assim
como Pedro Américo, Rodolfo Amoedo (1857-1941) estudou na Escola de Belas Artes
e depois esteve na Europa para aperfeiçoar-se.
Almeida
Júnior (1850-1899), com estilo ainda bastante acadêmico, inovou na temática,
com cenas da vida rural.
O
AMBIENTE DO ROMANTISMO
A
publicação de diversos jornais e revistas por todo o país, fez com que
surgissem vários caricaturistas que colaboravam com suas ilustrações. Revistas
como: Buscapé (1831), Lanterna Mágica (1844), A caricatura
(1951) e O Mosquito (1876), entre outras, fizeram muito
sucesso em suas épocas.
Um
destes caricaturistas foi Angelo Agostini, comentarista político e precursor
das histórias em quadrinhos brasileiras.
Em
1874 chega ao Rio de Janeiro o pintor alemão Johann Georg Grimm (1846-1887). Ele
exerce profunda influência na pintura de paisagem, que não era tão considerada até
sua chegada. Com seu trabalho, a pintura acadêmica foi se flexibilizando e
aceitando temas que não fossem históricos ou heróicos, tornando a paisagem uma
obra de arte maior.
REALISMO
/ NATURALISMO
As
modificações políticas sempre trazem transformações estéticas e culturais. Com
a abolição da escravatura (1888), o fim do Império e a proclamação da República
(1889), as novas idéias influenciaram a arte, que se torna mais realista e
naturalista.
A
filosofia positivista é um fundamento teórico que inspira essa orientação. Esse
período é conhecido também como Belle Époque, pois a influência da cultura
francesa era muito intensa. Aconteceram muitas exposições internacionais em que
as novas tendências eram lançadas e em que os artistas brasileiros se
destacavam.
A
exposição internacional de 1878 consagrou o Impressionismo, a de 1889 representou
o triunfo dos simbolistas e em 1900 o Art Noveau entrou em cena.
Os
padrões acadêmicos na pintura e o desejo de focalizar a realidade fazem com que
a pintura e escultura sofram poucas modificações.
Rodolfo
Bernadelli (1852-1931) foi professor e dirigiu a Escola de Belas-Artes até
1915. Deixou inúmeros monumentos grandiosos.
Benedito
Calixto (1853-1927) estudou na Europa, mas não assimilou novas influências e
continuou o estilo acadêmico em suas marinhas, seus quadros religiosos e cenas
históricas.
Na
virada do século, a liberdade de expressão permite o desenvolvimento da
caricatura, tornando possível o surgimento da primeira caricaturista
brasileira: Nair de Teffé, mais tarde primeira dama do Brasil ao casar-se com
Hermes da Fonseca.
Já
Belmonte destaca-se na caricatura de tipos paulistanos.
AS
ORIGENS DA MODERNIDADE
Nas
artes plásticas, a transição entre o Academicismo e o Modernismo é representada
pelos trabalhos de Belmiro de Almeida (1858-1935) e de Eliseu Visconti
(1866-1944), que começam a usar as técnicas impressionistas. Passa a haver a
recusa aos modelos renascentistas, a negação da linha, a ênfase da luz e cores
e a incorporação do pontilhismo.
Visconti
era italiano e veio com seus pais para o Brasil com menos de um ano de idade. Estudou
na Escola de Belas-Artes aperfeiçoou-se em Paris e na volta, foi autor da
decoração do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Além da pintura de retratos,
paisagens, cenas urbanas e familiares, dedicou-se ao desenho e à produção de
cartazes e de vinhetas publicitárias. O delineamento do desenho dá lugar aos
efeitos cromáticos da luz tornando a pincelada mais solta.
Nos
primeiros anos do século XX, estes artistas começam uma aproximação entre a
arte e a indústria, por meio das artes aplicadas, entre elas, cerâmica,
decoração, artes gráficas, mobiliário, o que é um dos deflagradores da
modernidade. Nesse período, em um ambiente dominado por homens, destacou-se uma
mulher de grande talento: Georgina de Albuquerque (1885-1962). Foi considerada
uma das expressões da pintura impressionista brasileira.
A
MODERNIDADE
A
PROSPERIDADE ECONÔMICA E A ARTE
A
mudança do século e a prosperidade na agricultura do café promovem o
enriquecimento das metrópoles, principalmente São Paulo. Surgem as fábricas,
muitos imigrantes da Itália, França e Alemanha vêm trabalhar nas fazendas e indústrias.
Sua influência se faz sentir em todos os aspectos da cultura. O contato com o
que acontece na Europa é mais estreito e as influências são imediatas.
A
primeira aproximação do público paulista com a arte expressionista foi
promovida pelas exposições, em 1913, de Lasar Segal (1891-1957), pintor lituano
que se transferiu para o Brasil, e, em 1917, de Anita Malfatti (1896-1964), que
estivera em Paris.
Em
relação à arte acadêmica, as diferenças eram evidentes, com pinceladas mais
livres, cores intensas e expressividade maior. Os temas brasileiros são
valorizados, com suas lendas, costumes urbanos e rurais e suas gentes.
No
campo da arquitetura, na virada do século 20, o arquiteto francês Victor
Dubugras, radicado no Brasil, desenvolve projeto perfeitamente sintonizado com
a experimentação do Art Noveau, praticando obras com a mesma desenvoltura
modernista européia. Em toda a construção ele deu inteira preferência às formas
de estrutura real, com os materiais francamente expostos dando caráter honesto
e racional à construção.
A
partir de 1919 uma nova tendência de arquitetura começa a surgir como uma volta
às origens brasileiras recebendo a denominação de neocolonial, inspirada na arquitetura
tradicional brasileira.
Durante
a Exposição do Centenário da Independência em 1922, no Rio de Janeiro, alguns
dos principais pavilhões foram projetados dentro do espírito neocolonial. Um de
seus maiores expoentes foi o arquiteto Georg Przyrembel
A
SEMANA DE ARTE MODERNA E OS MODERNISTAS
Monteiro
Lobato escreveu um artigo escandalizado a respeito de Anita Malfatti e daquilo
que se anunciava para as artes plásticas, com o título: Paranóia ou
mistificação?
Os
modernistas ficaram assustados com a reação, uniram-se para defender Anita e se
apresentaram em grupo, numa semana inteira de espetáculos e exposições. Era a
famosa Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922, no Teatro
Municipal de São Paulo.
Pintores,
escultores, músicos, arquitetos escritores reuniram-se e mostraram o que se fazia
de mais moderno. Entre eles estavam Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do
Rego Monteiro, Oswaldo Goeldi, Victor Brecherret, Villa Lobos, Guiomar Novaes,
Ribeiro Couto, Ronald de Carvalho, Graça Aranha, Oswald de Andrade, Mário de
Andrade e Menotti Del Picchia, que se uniram e fizeram uma provocação à arte
acadêmica, na busca do novo e de uma expressão genuinamente brasileira, embora
inspirada nos impulsos libertadores europeus.
Muitos
grupos diferentes foram surgindo, com propostas às vezes divergentes, mas
sempre ligadas à idéia de modernidade. Assim, surgem inúmeros manifestos que
propunham programas estéticos, entre os quais os mais importantes foram o
Manifesto Pau-Brasil (1925) e Manifesto Antropofágico (1928).
A
Antropofagia foi um movimento que propunha a incorporação transformada e
abrasileirada das influências estrangeiras. O escritor Oswald de Andrade e sua
mulher Tarsila do Amaral lideraram estas idéias, que tinham também um cunho
político e social.
O
AMBIENTE MODERNISTA
Juntamente
com a música de Villa Lobos, a instalação da rádio, a popularização do disco,
de Pixinguinha, Carmem Miranda, além do cinema com a Cinédia e a Atlântida, a
pintura moderna brasileira assume inicialmente um figurativismo com
características mais expressionistas, temas regionalistas e preocupação social.
Destacam-se
pintores que estiveram na Europa e trouxeram influências da arte que se fazia
lá, como Cândido Portinari, Osvaldo Goeldi, Ismael Nery e Alberto da Veiga
Guinard.
Portinari
Nasceu
em Brodósqui, no interior de São Paulo, mas passou a juventude no Rio. Premiado
com uma viagem à Europa, em 1928, tem contato com os modernistas europeus, dos
quais recebe profunda influência, como é o caso do espanhol Pablo Picasso.
Sua
pintura, inicialmente tradicional, modifica-se, passando por diversas fases. Seu
trabalho foi perdendo o traço de fidelidade à realidade para adquirir, pela
distorção do desenho, maior expressividade e comunicação imediata com a sensibilidade.
Dos
temas trazidos da infância em Brodósqui e do cotidiano popular alcançou os
temas sociais em que se destacou, influenciando muito outros pintores. Pintou
os ciclos econômicos brasileiros, os tipos regionais, temas bíblicos,
retirantes, imigrantes, assuntos históricos, cenas com crianças, retratos etc...
Portinari pintou no Brasil e no exterior grandes murais. Produziu durante sua
vida mais de 5 mil trabalhos.
Oswaldo
Goeldi
Seu
trabalho em xilogravura, litografia, desenho e aquarela destaca-se no panorama
da arte brasileira. Sua obra retrata de forma crítica os aspectos da injustiça
social do Brasil, como a morte, a pobreza, os subúrbios e a solidão.
Ismael
Nery
Morreu
ainda jovem, sendo um dos primeiros e mais representativos pintores ligados ao
surrealismo, movimento que busca sua temática no inconsciente, nos sonhos, nos
delírios. Em sua obra sobressai a presença da imaginação criativa.
Alberto
Guignard
Depois
de estudos na Europa, retorna ao Brasil em 1929 influenciado por Cézanne,
Matisse e pelos pintores surrealistas que lá conheceu. Convidado por Juscelino
Kubtschek, vai para Belo Horizonte, onde produz significativa obra focalizando
as paisagens de Minas Gerais.
José
Panceti
Os
artistas que trabalhavam solitariamente começam a se reunir por afinidades
estéticas em grupos e associações. Assim, organizam salões e exposições.
A
pintura feita ao ar livre no Rio de Janeiro, com trabalhos que retratam o
subúrbio e a paisagem litorânea, dá origem ao Núcleo Bernadelli, no qual se
destaca, entre outros, José Panceti (1904-1958).
Lasar
Segall
Em
1913, Segall vem pela primeira vez ao Brasil, expondo em São Paulo e Campinas,
onde percebe-se já em sua obra uma forte influência do expressionismo. No ano
seguinte Segall seria internado em um campo de concentração, experiência que
iria representar mais tarde em suas obras inspiradas pela Segunda Guerra.
No
início dos anos 20 Lasar Segall instala-se definitivamente no Brasil,
naturalizando-se depois de casar com Jenny Klabin, em 1925. A partir daí passa
a ser uma das peças centrais do Modernismo, atuando como um contraponto alemão
às influências francesas.
É
neste período que começam a surgir temas brasileiros em sua obra, as
personagens são agora mulatas, negros, marinheiros e prostitutas. Tem grande
participação na vida cultural paulista deste momento, fundando a Sociedade
Paulista de Arte Moderna (SPAM), em 1932. Além disso, passa a dar aulas e
influencia toda uma geração de gravadores brasileiros.
Alfredo
Volpi
Pintor
nascido em Lucca, Itália. Veio com a família ao Brasil, fixando-se em São
Paulo. Exerceu vários ofícios, inclusive o de decorador de interiores. Em 1914
executa sua primeira obra. Sua pintura caracteriza-se, até 1930, pela
aproximação naturalista das formas e cores, resolvidas de maneira
impressionista ou expressionista.
Pertencente
a um grupo de artistas vindos da classe operária, tem como tema principal a
paisagem, a natureza morta, os casarios populares, as festas e as quermesses. Fez
parte do Grupo Santa Helena, desenvolvendo a partir de então um cromatismo mais
vívido, em detrimento da textura, quase translúcida.
Clovis
Graciano
Pintor,
desenhista, cenógrafo, gravador e ilustrador, muda-se para a cidade de São Paulo
em 1934. Até então praticava desenho como autodidata, mas, após contato com o
pintor Candido Portinari (1903-1962), passa a freqüentar o ateliê de Waldemar
da Costa (1904-1982) e a cursar desenho na Escola Paulista de Belas Artes.
Em
1937, instala-se no Palacete Santa Helena integrando o Grupo Santa Helena, com
Francisco Rebolo (1902-1980), Mario Zanini (1907-1971) e Bonadei (1906-1974),
entre outros. Membro da Família Artística Paulista, em 1939 é eleito presidente
do grupo.
Em
1949, com o prêmio obtido no Salão Nacional de Belas Artes viaja para a Europa.
Em Paris, estuda pintura mural e gravura. A partir dos anos 50, dedica-se à
pintura mural.
Francisco
Rebolo
Foi
um pintor brasileiro, filho de imigrantes espanhóis que chegaram ao Brasil no
fim do século XIX. Fez parte do Grupo Santa Helena e é considerado um dos mais
importantes paisagistas da pintura brasileira.
Sua
a obra, com um total estimado superior a 3.000 pinturas, centenas de desenhos e
um conjunto de cinqüenta diferentes gravuras, de variadas técnicas, além das
paisagens, envolve também como temática um expressivo conjunto de retratos,
figuras, naturezas-mortas e flores.
Hoje,
os trabalhos de Rebolo estão nos principais museus brasileiros, no acervo de
órgãos culturais e governamentais e em coleções particulares em todo o Brasil.
Lívio
Ábramo
Foi
um gravador, desenhista e pintor brasileiro de renome internacional. Trotskista
e militante sindical torna-se membro da Oposição de esquerda Internacional no
Brasil, liderada por Leon Trotski.
Realiza
suas primeiras gravuras em 1926 quando, bastante influenciado pelos temas
humanos e sociais do expressionismo europeu, introduz no Brasil a gravura
moderna. Viajou para a Europa com o prêmio de viagem do Salão Nacional de Arte
Moderna de 1950, onde conheceu o não-figurativismo, que traduziu para uma
linguagem pessoal. Esse estilo ficou mais patente na série Festa,
iniciada em 1954 e um dos momentos mais ricos de sua carreira.
Casado
com Anna Stefania Lauff, filha do militante comunista húngaro Rudolf Josip
Lauff, membro do Exército Vermelho da URSS, atuando no trem blindado de Leon
Trótski, durante a guerra civil.
Carlos
Scliar
Foi
um destacado desenhista, gravurista, pintor, ilustrador, cenógrafo, roteirista
e designer gráfico. Judeu brasileiro participou constantemente de exposições no
Brasil e em todos os centros artísticos mundiais, registrando sempre absoluto
sucesso.
Ativista
social, engajou-se em vários movimentos, como o 1º Congresso da Juventude
Democrática, na Tchecoslováquia e em manifestações brasileiras, seja produzindo
cartazes, seja ilustrando livros e revistas.
Gravurista
por opção apaixonou-se pela serigrafia, em cuja técnica desenvolveu várias séries.
Aliás, uma das importantes características de Carlos Scliar era a sua
capacidade de inovar, buscando novos materiais que lhe servissem de base e
técnicas as mais variadas, desde têmpera até o acrílico, passando pelas artes
gráficas. Pintou quadros, mas também fez murais e até ilustrou vários bilhetes
da Loteria Federal, premiados com sua arte.
Djanira
Nasceu
em Avaré e aos 23 anos, é internada com tuberculose no Sanatório Dória, em São
José dos Campos onde fez seu primeiro desenho: um Cristo no Gólgota. Mais tarde
freqüenta, à noite, o curso de desenho no Liceu de Artes e Ofícios tendo
contato com vários artistas importantes da época.
Em
1943 realiza sua primeira mostra individual e em 1945 viaja para Nova York, onde
conhece a obra de Pieter Bruegel e entra em contato com Fernand Léger, Joan
Miró e Marc Chagall. Entre 1953 e 1954, viaja a estudo para a União Soviética.
A
sua pintura dos anos 40 é geralmente sombria, utiliza tons rebaixados, como
cinza, marrom e negro, mas já apresenta o gosto pela disciplina geométrica das
formas.
Na
década seguinte, sua palheta se diversifica, com uso de cores vibrantes, e em
algumas obras trabalha com gradações tonais que vão do branco ao cinza-claro.
Apresenta em seus tipos humanos uma expressão de solene dignidade.
Aldemir
Martins
Nasceu
no dia 8 de novembro de 1922 em Ingazeiras, Vale do Cariri, Ceará. Desenha
desde menino. No colégio militar, torna-se monitor de desenho de sua classe.
No
início dos anos 40, cria juntamente com outros artistas os Grupos Artes e a
SCAP - Sociedade Cearense de Artistas Plásticos, responsáveis pela renovação do
ambiente artístico cearense. Em 1942 expõe, pela primeira vez, no II Salão de
Pintura do Ceará.
Transfere-se
em 1945, para o Rio de Janeiro, onde participa de uma coletiva na Galeria
Askanasi e do Salão Nacional de Belas Artes. Um ano depois está em São Paulo
onde realiza sua primeira individual, na seção paulista do Instituto dos
Arquitetos do Brasil.
Em
1947 é convidado a participar da exposição "19 Pintores", que marca a
emergência de uma nova geração de artistas brasileiros. Desde então, Aldemir
Martins participa ativamente do movimento artístico brasileiro.
Cardosinho
Os
artistas populares, que não têm formação acadêmica e não vêm das elites,
começam a ser descobertos e valorizados. Foi o caso de Cardosinho, um professor
que começa a pintar por lazer, depois da aposentadoria aos setenta anos,
tornando-se conhecido e produzindo mais de seiscentos quadros.
Heitor
dos Prazeres
Foi
inicialmente músico popular, compositor, instrumentista e letrista, tendo
composto junto com Noel Rosa. Com a morte da esposa em 1936, da paixão e
tristeza de Heitor dos Prazeres surgiu uma nova maneira de se expressar
artisticamente.
O
compositor descobriu o pintor ao ilustrar, através de um desenho colorido, sua
mais nova criação musical: O pierrot apaixonado. Em 1937 começou a se projetar
como pintor, participando de exposições, sempre incentivado pelos amigos.
Começava assim a dupla atividade de sambista e pintor.
“A
PRIMEIRA BIENAL DE ARTE MODERNA”, em São Paulo. Incentivado novamente pelo
amigo, jornalista e crítico de artes Carlos Cavalcante a participar desse
evento de arte de repercussão internacional, que reuniu, em 1951, artistas de
várias expressões do Brasil e do mundo, proporcionando uma grande alegria na
sua carreira com a contemplação do terceiro prêmio para artistas nacionais
através do quadro intitulado Moenda.
VOLTANDO
AO AMBIENTE MODERNISTA
No
fim da primeira metade do séc.XX acontecimentos importantes marcam a entrada do
Brasil no circuito internacional das artes. Em 1947, o empresário de
comunicações, Assis Chateaubriand funda o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Seu
significativo acervo, arrecadado entre os grandes empresários e políticos da
época, abrange desde os góticos italianos até os mestres do Impressionismo
francês.
O
Museu da Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) é fundado em 1948 pelo industrial
de origem italiana Francisco Matarazzo Sobrinho. Logo em seguida é criado o
Museu da Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ).
Em
1951, realiza-se a primeira Bienal Internacional de São Paulo, marcando a
presença do abstracionismo na pintura e escultura do país. O Brasil passa a ser
parte da grande corrente de países que produzem, participam das mostras
internacionais e exibem sua arte em outros países do mundo, como forma de
reafirmar sua identidade e a força do seu imaginário.
Após
a Semana de 22, também a Arquitetura tomou novos rumos no Brasil. O arquiteto
russo Gregori Warchavchik projetou a Casa Modernista (1929-1930), a primeira
casa em estilo Moderno construída em São Paulo. Em Belo Horizonte, Oscar
Niemeyer projeta a Igreja da Pampulha.
Cerca
de quarenta anos se passaram desde os primeiros arranha-céus construídos em
Chicago e as primeiras tentativas de gênero no Brasil. Em São Paulo o imigrante
italiano Giuseppe Martinello ergueria em 1929 um arranha-céu com 25 andares e
105,65 m de altura (Ed. Martinelli). Em 1930 era concluído no Rio de Janeiro o
edifício A Noite com 24 andares e 102,5 m de altura. Diferentemente dos norte
americanos nossos edifícios eram em concreto armado.
Com
a implantação do Estado Novo, a arquitetura vai sofrer também as influências das
doutrinas totalitárias, principalmente do fascismo italiano, tendo como exemplo
o projeto de reforma do antigo Ministério da Guerra no Rio de Janeiro de
autoria do arquiteto Stockler das Neves de 1939.
A
seguir surgirá uma nova geração de arquitetos que se tornará reconhecida em todo
o mundo por desenvolver projetos arrojados e inovadores de acordo com as novas
tendências do modernismo. Entre outros podemos destacar os irmãos M. Roberto,
Lúcio Costa Affonso Eduardo Reidy e Oscar Niemeyer.
TENDÊNCIAS
CONTEMPORÂNEAS
A
ABERTURA PARA O MUNDO
Alguns
fatores representaram uma grande transformação na arte brasileira na metade do século
XX. O funcionamento de grandes museus interessados nos movimentos da arte
moderna representou uma abertura às novas tendências desenvolvidas em outros
países.
A
realização da 1a Bienal Internacional de São Paulo colocou o Brasil no circuito
internacional de acontecimentos ligados às vanguardas, ou seja, às artes
renovadoras. A presença do escultor suíço Max Bill nesta exposição trouxe o
predomínio das formas abstratas, que passam a ser dominantes sobre as
figurativas.
O
Museu da Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) instala-se definitivamente, em
1958, no magnífico prédio projetado por Affonso Eduardo Reidy, com jardins de
Roberto Burle Marx.
Embora
continuem a existir diversas formas de expressão, o abstracionismo tomou lugar
de destaque. Surgem artistas como Mary Vieira, Wega Nery e Anna Bella Geiger.
O
experimentalismo e o abstracionismo despontam também na escultura com os
trabalhos de Bruno Giorgi, Francisco Stockinger, Antônio Bandeira e Fayga
Ostrower. Há também grande desenvolvimento da xilogravura nas obras de Marcelo
Grasman, Renina Katz, Gilvan Samico e Rubem Grilo.
O
SÉCULO XX.
Entre
os anos 50 e 60 há muita inquietação intelectual e uma grande diversidade de
tendências: são os ismos. Também sob a influência de Max Bill, premiado
na Bienal, surge o concretismo, movimento abstrato que propõe um trabalho
rigoroso com a geometria guiada pelo raciocínio.
É
criado a partir do grupo Ruptura (SP), formado por Valdemar Cordeiro, Geraldo
de Barros, Hermelindo Fiaminghi, Luis Sacilotto e os poetas Augusto e Haroldo de
Campos e Décio Pignatari.
O
neoconcretismo, baseado no grupo Frente (RJ), reage ao rigor formal da arte
concreta e busca aproximação com a op art (arte ótica) e a arte
cinética, produzindo pinturas, esculturas e objetos nos quais a presença da
luz, dos efeitos do movimento e a incorporação do espaço como formas de
expressão são os temas principais. São manifestações que simbolizam um mundo
precário, instável, em constante transformação.
Com
um número restrito de elementos, o artista promove relações e estruturas, a
partir das quais o observador passa a interagir com a obra, movimentando-a,
entrando nela, vestindo-a. Um dos representantes mais importantes dessa
tendência é Hélio Oiticica com seus Parangolés que antecipam em alguns
aspectos o que viria a ser chamado de instalações. Destacam-se também
Athos Bulcão, Amilcar de Castro, Ivan Serpa, Franz Weissmann,Lygia Clark e Lygia
Pape.
A
principal tendência abstrata dos anos 60 passa a ser o informalismo, que produz
a expressão de grande pureza e de efeito lírico. Entre os principais artistas
estão Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Arcângelo Ianelli, Tikashi Fukushima, Flávio
Shiró, Emanoel Araújo e Maria Bonomi.
A
figuração volta a provocar o interesse de um grupo de pintores que usam imagens
buscadas nos meios de comunicação para produzir uma arte politicamente engajada
e narrativa. São representativas deste período as obras de: Wesley Duke Lee,
Antonio Henrique Amaral, Nelson Leirner, Rubens Gerchman e João Câmara.
Durante
os anos 70, com a ditadura militar, houve censura às artes mas mesmo assim
surgem manifestações de grande força estética.
Nas
artes plásticas ao mesmo tempo em que se acentua a defesa da arte conceitual, com
a idéia se tronando o centro do fazer artístico, são desenvolvidos também novos
meios e tecnologias como o grafite, a instalação, a arte postal e a arte
ambiental que modifica e se relaciona com elementos da paisagem natural,
principalmente por meio da escultura e da instalação, além da performance que
executa uma ação espontânea ou teatral, podendo envolver a participação do
público.
A
ARTE POPULAR
Passa
a ser valorizada pelas bienais de São Paulo e pelas grandes exposições, como a dos
500 anos (2000). Artistas populares compõem um conjunto variado de
manifestações fincadas na alma brasileira. Fibras, penas, madeira, tintas,
cerâmica, tecidos, metais, conchas, pedras e uma infinidade de materiais servem
ao imaginário popular.
Geralmente
provenientes do mundo rural, sem muita escolaridade, os artistas deixam em suas
obras reflexos da religiosidade, da imaginação, dos mitos, das crenças, dos
desejos, dos medos, dos sonhos que constituem seu universo.
NOVAS
TENDÊNCIAS PARA O SÉCULO XXI
Nas
artes plásticas contemporâneas o Neo-Expressionismo é a influência dominante a
partir dos anos 90 e resgata os meios tradicionais, como a pintura.
As
tendências figurativas se fortalecem, apesar da forte presença do
abstracionismo e da arte conceitual. Com o desenvolvimento da tecnologia, a vídeo-arte
torna-se importante.
A
intervenção urbana desenvolve-se, estabelecendo relações entre o espaço e a obras
de arte.
Tendências
do pós-modernismo ganham força, com a apropriação e a constante releitura da
história, a simulação de situações aproximadas a arte e o mundo real e a
desconstrução da obra artística, que discute o significado da imagem numa
sociedade de cultura de massa.
Novas
tecnologias permitem uma arte multiculturalista, que absorve influências e
interliga diversas linguagens, como a fotografia, o vídeo e a pintura. Surgem
artistas que lidam com o conceito e se utilizam de vários suportes.
A
informatização abre novas possibilidades de globalização da arte e a tecnologia
traz estímulos infinitos com a utilização da Internet. Até mesmo as exposições
e o suporte material da arte começam a ser rediscutidos.
Os
artistas não se organizam mais em grupos para desenvolverem uma proposta
conjunta. Cada carreira tem sua trajetória particular, específica e pessoal. A
individualidade é um valor que dificulta a caracterização em estilos.
A
descontinuidade, a ruptura, o efêmero, o descartável, o transitório se
incorporam definitivamente ao fazer artístico, cujo produto tem duração
restrita. Muitas vezes o público acostumado à arte tradicional se sente
perplexo diante dessas manifestações e experiências que exigem sua
participação, envolvimento e até mesmo sua co-autoria. Essa arte, que se
oferece mais ao pensamento que ao olhar, propõe uma nova forma de fruição, não
está voltada ao passado, mas sim para o momento presente e para o devir, ou
melhor dizendo, para o vir-a-ser.
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