Arquitetura é a arte de projetar e organizar espaços internos e externos seguindo critérios de estética, conforto e funcionalidade.

Arte e Arquitetura Brasileira


DOS ANTECEDENTES

ARTE RUPESTRE



Arqueólogos e pesquisadores que estudam as civilizações pré-históricas em território brasileiro, calculam que entre 40 mil e 12 mil anos a.C. já existiam grupos nômades, caçadores e pescadores vivendo aqui. Provavelmente vieram da Austrália e da Ásia.
As pinturas e gravuras deixadas por eles são o testemunho de sua passagem. Esses registros em diferentes suportes de pedra são chamados de arte rupestre ou itacoatiaras. Estes suportes de pedra variam desde paredes e tetos de cavernas a blocos no chão e ainda pedras nos rios e lajes a céu aberto.

Pintura rupestre - Sítio Arqueológico da Serra da Capivara - São Raimundo Nonato - Piauí


As pinturas rupestres brasileiras mais antigas foram encontradas na região de São Raimundo Nonato, no Piauí. São  desenhos  de  animais,  pessoas,  plantas  e  objetos, muitas  vezes  retratando  cenas  da  vida  cotidiana ou eventos cerimoniais.
Na região de Lagoa Santa em Minas Gerais também se encontra arte rupestre com cenas de caça com uso de flechas e armadilhas onde veados são aprisionados, além do uso de rede com peixes, retratando movimento.


Pintura rupestre - Sítio Arqueológico de Lagoa Santa


Além da pintura, outros sítios apresentam outro tipo de arte rupestre conhecido como gravura, onde foi utilizada a técnica de abrasão ou raspagem das pedras, resultando figuras em baixo relevo.


Abrasão - Figura de baixo relevo - Sítio Arqueológico Arruda - SC


Os temas encontrados são bastante variados desde desenhos geométricos com formas não representativas, além de pontos, traços e círculos de tamanhos e combinações variadas. São também encontrados desenhos figurativos com representações de pessoas, animais, árvores e outros objetos. Os estilos também variam com figuras formadas apenas por linhas de contorno ou pinturas cheias, além de pontilhados e aproveitamento do relevo da pedra para dar impressão de volume.


Desenho em baixo relevo - Sítio Arqueológico Ilha da Aranha - SC


Contudo a arte rupestre se constitui talvez no vestígio arqueológico mais difícil de ser analisado, pois não conhecemos bastante o contexto social em que os desenhos foram criados. É uma representação do mundo real, na forma de um símbolo onde o significado pode variar muito de sociedade para sociedade.
O desenho pode estar funcionando como meio de comunicação, como forma de magia, como arte pura, como pré-escrita ou ainda como marcador de territórios. O que é certo é que nessas representações já existe o impulso de produzir elementos estéticos e o desejo de expressão de um pensamento ou de um sentimento. Por isso podemos dizer que se trata de arte.

ARTE MARAJOARA E TAPAJÓ


Na região da Ilha de Marajó e na Bacia do Rio Tapajós há vestígios de culturas amazônicas com alto grau de desenvolvimento na fabricação e na decoração de artefatos de cerâmica. Dos índios Tapajós restou apenas os muiraquitãs, pequenas esculturas de rãs em pedra, os machados polidos e uma cerâmica tão elaborada que parecem verdadeiras esculturas.
Em seu apogeu, a ilha de Marajó pode ter tido mais de 100 mil habitantes. Entre eles artistas fabricavam objetos cerâmicos ricamente decorados, vasilhas, estatuetas, urnas funerárias e adornos. Esses objetos sugerem que a cultura marajoara atingiu alto grau de sofisticação e complexidade social e política.
Foram encontradas grandes urnas funerárias, chamadas Igaçabas, decoradas com desenhos labirínticos, em enormes aterros perto do lago Arari.
Os objetos produzidos pelas culturas antigas estavam, muitas vezes, associados a rituais que eram grandes espetáculos artísticos reunindo todas as manifestações tais como: música, dança, adereços, vasos, urnas, estatuetas, que representavam as crenças e as formas de expressão própria daquela cultura.

ARTE INDÍGENA



Cerca de 5 milhões de índios habitavam o Brasil antes dos europeus chegarem. A arte aqui desenvolvida, embora ligada ao prazer estético difere da arte contemporânea.
A casa, a organização espacial da aldeia, os utensílios, os objetos de uso cotidiano e principalmente aqueles ligados às cerimônias e rituais, estão impregnados de um desejo de fazer coisas bonitas e agradáveis ao olhar, de modo que sejam expressões simbólicas da cultura.
O índio investe esforço e tempo na produção de um objeto artístico porque se preocupa em adorná-lo de forma especial. A arte plumária e a pintura corporal atingem grande complexidade em termos de cor e desenho, utlizando penas e pigmentos vegetais como matéria-prima. A arte indígena reflete a busca do prazer estético e de comunicação por meio de uma expressão visual.
Cerâmicas com diversas finalidades, trançados como cestas, redes, utensílios e esteiras; adornos plumários como mantas, cocares e máscaras; adereços de contas, de pedras, de sementes, de cascas, de ossos, de dentes e de conchas; utensílios de madeira; instrumentos musicais como flautas, chocalhos e tambores; e objetos rituais, mágicos e lúdicos, demonstram como as diferentes culturas indígenas se expressavam.
Os grupos indígenas que até hoje mantêm sua tradições, como os Caiapós e os Camaiurás, demonstram como a pintura corporal é uma forma de expressão artística e uma linguagem visual em estreita relação com outros meios de comunicação verbais e não verbais. Apresenta ainda outras funções como repelente contra insetos e protetor solar. Possui também a propriedade mágica de espantar maus espíritos.
É ainda uma forma de expressão minuciosa que pode representar intenções pacíficas ou guerreiras, sentimentos, situações festivas ou religiosas, importância social.

DOS ANTECEDENTES EUROPEUS

Durante o século 16, o Brasil e a própria América como um todo, passaram a  ser ocupados por conta das necessidades européias decorrentes da crise do Feudalismo.
Sofrendo a influência portuguesa na formação de suas cidades e por conseqüência as influências romanas deixadas em Portugal, o Brasil possui em sua conformação urbana e arquitetônica muitas semelhanças com o modelo romano de urbanização. Basta verificarmos o traçado reticulado imposto às novas cidades romanas nos quais se cruzavam as duas principais vias: o Cardo e o Decumanus. 
No traçado romano a interseção entre estes eixos era sagrado, pleno de significados, sendo inclusive a localização do fórum.  Tal referência se tornou muito comum no Brasil como podemos constatar em diversos núcleos urbanos do litoral ou do interior, apresentados em diferentes escalas.
A Praça XV de Novembro no Rio de Janeiro, a Praça Tiradentes em Ouro Preto, o coração administrativo do país, a Praça dos Três Poderes, em Brasília demonstram essa tendência.
Com a desestruturação do Império Romano pelas invasões bárbaras, as cidades foram abandonadas e perderam a sua importância. As grandes propriedades rurais passaram a ser o centro das atividades humanas.
Começava a chamada Era Feudal, onde o castelo, inicialmente construído de madeira e depois de pedra passou a ser o centro político de onde o senhor feudal exercia o seu poder. Perto dos castelos, a pequena vila, os servos, com suas casas de madeira, um misto de habitação e celeiro.
Com o passar do tempo ocorrem melhores colheitas o que permite um aumento populacional tornando as pequenas vilas insuficientes para o abrigo de todos. Gradativamente as cidades voltam a ser ocupadas e suas populações crescem cada vez mais tornando críticas as condições higiênicas e sanitárias. Prosperam pestes e endemias devidos aos dejetos e excrementos jogados a céu aberto esperando que alguém os queimassem ou fossem naturalmente levados pelas chuvas.
Além disso os europeus tinham também problemas em conservar seus alimentos por períodos prolongados, fato que irá explicar a importância do contato com o oriente e a descoberta das especiarias. Na busca desses produtos o comércio foi intensificado pelas rotas mediterrâneas fazendo prosperar reinos, principados e ducados situados principalmente na península itálica.
Era o velho mundo feudal se transformando e se monetarizando, fazendo as moedas circularem e a necessidade por metais preciosos aumentarem. Após o esgotamento das minas européias, a solução foi buscar metais preciosos e especiarias em áreas fora da Europa.
No caso português que teve seu território invadido pelos árabes e mulçumanos, sua população cristã conviveu com cidades nas quais o desenho de seus traçados eram diferentes da racionalidade romana.
As cidades luso-mulçumanas definiram seu centro cívico-administrativo em local elevado. Deste modo se protegiam de ataques inimigos, pois além da posição estratégica ainda eram defendidos por muralhas. As muralhas serão utilizadas como defesa até a utilização da pólvora como arma de guerra. Dentro do espaço fortificado ficavam o palácio do governante e outros espaços administrativos.
Descendo o morro, uma cidade se esparramava, com um crescimento orgânico, com ruas espontâneas, estreitas e sinuosas que cumpriam seu papel fundamental como via de ligação, propiciando sombras abundantes e becos apertados e labirínticos que propiciavam defesa à cidade.
As casas eram voltadas para o interior com poucas janelas e formando bairros com grande densidade. Portugal foi o primeiro lugar da Europa onde ocorreu a aliança rei-burguesia.
Após sua unificação como Estado Nacional, Portugal se lançou nas conquistas ultramarinas, unindo motivações econômicas, religiosas e práticas como a busca de especiarias, ouro e pescado.
Após conquistarem a rota do Oriente pelo sul da África, desbancando a rota mediterrânea, os portugueses chegarão em breve ao Brasil. Ao ocupar novas terras significou também novos hábitos e novas regras tais como as de ordenação das ruas das novas cidades.
Já durante o reinado de D.Manuel I a racionalidade determinou a ordenação dos traçados urbanos, fazendo o Brasil conviver com dois sistemas de traçado urbano.

DA OCUPAÇÃO EUROPÉIA

Como sabemos a primeira riqueza encontrada pelos portugueses na nova terra foi o pau brasil.
Para permanecerem aqui e retirar a madeira foram criados pelos colonizadores núcleos de povoamento denominados feitorias, com cerca de vinte homens e que serviam como ponto de chegada. Eram formadas por um conjunto de pouquíssimas casas de madeira e palha protegidas por uma paliçada também de madeira.
Por aqui pouco se usou a pedra como era costume em Portugal, certamente pela abundância de madeira existente. Após 1530 um outro produto surgia no cenário possibilitando a implantação de uma economia organizada: a cana-de-açúcar. Os portugueses já dominavam todas as etapas do cultivo e manipulação desse produto, pois já tinham experiência anterior em ilhas do Atlântico. A partir daí passava a haver condições para a ocupação efetiva daquele imenso território gerando lucros significativos que justificariam todos os esforços para sua colonização.

ARTE E ARQUITETURA EUROPÉIA NO BRASIL

A OCUPAÇÃO DA TERRA

Apesar de toda a riqueza e simbologia da arte existente no Brasil antes da chegada do europeu, essa produção não foi devidamente valorizada. Os europeus nem acreditavam que os povos aqui encontrados tivessem “alma”. Esse preconceito foi tão forte que somente no século XIX a cultura pré-cabralina e a indígena começaram a ser reconhecidas e estudadas.
Por mais de trinta anos após o descobrimento, apenas algumas expedições de reconhecimento e patrulhamento vinham até a nova terra. Com os donatários e governadores das Capitanias Hereditárias, começaram a chegar ao Brasil, em 1534, nossos primeiros habitantes europeus: religiosos, desbravadores, artilheiros, órfãos, cristãos novos, escravos e mercenários.
A preocupação das autoridades portuguesas desse período era ocupar o território para defendê-lo, ensinar sua cultura e sua fé aos primitivos e manter junto aos europeus suas próprias raízes religiosas e culturais. A Igreja Católica (jesuítas, beneditinos e franciscanos) era responsável pelas manifestações artísticas e o governo se encarregava das construções militares de defesa do território.
Quando os portugueses começaram a se estabelecer no Brasil, a arte na Europa estava em transição e começava a se deslocar do estilo renascentista, que pregava a razão, em direção ao Barroco que era todo emoção.
Cidades foram implantadas como São Paulo em 1554, originando-se de um colégio de jesuítas, São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1565, para servir de base na luta contra os franceses e Filipéia na Paraíba em 1584. Esses núcleos não possuíam muralhas, pois a chegada da pólvora demonstrara a inutilidade de tal proteção.
É importante ressaltar o trabalho dos jesuítas na ocupação territorial tendo se destacado não somente em São Paulo mas também no Paraná coma fundação de algumas reduções sendo as duas primeiras São Loreto e Santo Inácio.

A ARQUITETURA COLONIAL PARA DEFESA E DEVOÇÃO


A arquitetura foi a primeira manifestação artística portuguesa em território brasileiro. Foram construídos fortes e igrejas em muitas das quais, as pedras eram enviadas de Portugal como carga de retorno. Essa arquitetura colonial de herança portuguesa influenciava a todos os artesãos que aqui viviam e tinham na arte européia seus modelos e mestres.
Com a dificuldade natural de recursos, muitas construções tinham seus projetos alterados durante as obras, passando a combinar aspectos neo-clássicos com barroco.
Com a intenção de fortificar e defender a costa brasileira, o Governador-Geral manda vir de Portugal o mestre de pedraria Luís Dias com a tarefa de fortificar a cidade de Salvador além de construir sua alfândega e casa de Câmara e Cadeia.
As fortificações procuravam defender a costa brasileira dos ataques estrangeiros, principalmente franceses, que pretendiam se instalar para dominar o território e explorar suas riquezas.


Forte dos Reis Magos, atualmente com o dique em pedras para visitação turística

O arquiteto Francisco Frias de Mesquita (1578-1645) construiu diversos fortes na região do nordeste brasileiro, como a Fortaleza dos Reis Magos, em Natal, em que o entrelaçamento com a religião fica evidente: o nome e formato da estrela de cinco pontas, conveniente para oferecer dez pontos diferentes de visão.

A PRESENÇA DOS JESUÍTAS

Igreja dos Reis Magos - Serra - ES

Os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 e construíram igrejas monumentais, seminários, escolas de catequese e de artes e ofícios. Essa presença deixou marcas desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul.
A arte devia servir a Deus e transformar as cerimônias em espetáculos fascinantes e sedutores. Entalhes, pinturas, ouro, prataria, estatuária, ricos tecidos constituíam o cenário propício ao culto religioso. A luz de inúmeras velas refletindo-se no ouro e nos objetos de prata criava um ambiente espetacular. Na Europa, essa grandiosidade da Igreja fazia parte da Contra-reforma e tinha como objetivo combater a influência e a expansão dos protestantes.
No Brasil o objetivo era outro: favorecer a catequese, atraindo novos fiéis. Os grandiosos templos, muitas vezes construídos em pequenas vilas, deviam atrair não apenas os senhores proprietários de terras, mas toda a população do entorno. Alguns imitavam fielmente igrejas de Lisboa e Itália.

MISSÕES JESUÍTICAS


As Missões ou Reduções surgiram por esforços diretos dos jesuítas junto aos índios Guaranis, sem apoio financeiro dos reis de Portugal e da Espanha. A região em que atuaram esses jesuítas ficava a oeste do atual estado do Rio Grande do Sul, nos limites entre o Brasil, Argentina e Paraguai.
Durante 140 anos, essa região isolada das potências colonizadoras pôde desenvolver-se sob o comando dos padres, com base numa agricultura comunitária ficando o tempo livre dedicado à religião e à arte.


Vista da Fachada e lateral da ruína da Igreja de São Miguel das Missões - RS


As igrejas missionárias representam ainda uma manifestação européia, revelada através da habilidade dos arquitetos religiosos e da capacidade de assimilação da mão-de-obra guarani. A escultura em pedra e madeira, bem como a pintura desenvolveram-se com o objetivo de realçar as igrejas e as cerimônias litúrgicas. Incorporavam-se à tradição européia figuras tipicamente tropicais, como frutas e pássaros. Instrumentos musicais eram fabricados para servir à música também criada com fins religiosos.

A PRESENÇA HOLANDESA

Em 1630, os holandeses ocuparam Pernambuco e boa parte da região nordeste, de onde foram expulsos somente em 1654. Nesses vinte e quatro anos de permanência, o trabalho dos pintores holandeses foi a herança cultural mais notável.
Convidados pelo príncipe Maurício de Nassau, vieram artistas que pela primeira vez focalizaram assuntos desligados de temas religiosos. Paisagens, naturezas-mortas, retratos, figuras humanas e de animais constituíram um grande painel do Brasil no período.
Um dos mais importantes entre esses pintores é Frans Post (1612-1680). Pintou paisagens, vistas de portos e fortificações. O seu quadro “Vista de Itamaracá” é considerado a primeira pintura que retrata fielmente o novo mundo.


“Vista de Itamaracá” - óleo sobre tela - Frans Post


Frans Post tinha apenas vinte e quatro anos quando veio para o Brasil com a missão de documentar em quadros a óleo as sedes holandesas no Nordeste. Permaneceu aqui de 1637 a 1644, quando produziu pelo menos dezoito quadros à óleo em tela e inúmeros desenhos.
Outro artista holandês que veio com Nassau e aqui permaneceu por sete anos foi Albert Eckhout. Um de seus temas prediletos era o habitante nativo do território brasileiro. Os personagens retratados obedecem a um esquema estrutural predominante, sendo vistos solitários, em meio à exuberante vegetação tropical, numa composição vertical.
Um quadro que foge à regra da verticalidade é “Dança dos Tapuias”, que representa um grupo de indígenas dançando com seus tacapes, e alcança grande realismo e senso de movimento. Eckhout produziu também várias naturezas-mortas de senso figurativo avançado para a época e várias ilustrações científicas da fauna e flora brasileira.


"Dança dos Tapuias" - óleo sobre tela - Albert Eckhout - Museu Nacional da Dinamarca


Esses dois grandes pintores e desenhistas refletem o interesse que a Europa tinha pelo exótico proveniente das novas terras descobertas. Embora tenham incorporado nossos temas tropicais aos seus trabalhos, ainda representam a arte européia feita por europeus no Brasil, e não uma arte propriamente brasileira.
Ao lado dessa produção consagrada, temos as obras de vários pintores anônimos, que não se preocupavam em nomear suas obras, geralmente feitas por encomenda. Um exemplo é o painel Batalhas dos Guararapes que se encontra em Pernambuco.


A Batalha dos Guararapes - óleo sobre tela - Victor Meirelles de Lima - PE


A presença dos holandeses no Brasil está diretamente associada ao interesse holandês no açúcar brasileiro. Com a união ibérica, a Holanda, inimiga da Espanha, foi impedida de comercializar com o Brasil. Assim decidiram invadir as zonas produtoras de cana de açúcar, tendo fracassado em Salvador mas obtendo êxito em Recife.


 Atual Palácio do Campo das Princesas, arquitetura neoclássica - PE


Neste período foi projetada a cidade Maurícia que hoje representa o centro de Recife, com a abertura de canais e construção de pontes. É desta época também a construção do Palácio de Friburgo, hoje Palácio do Campo das Princesas, sede do governo pernambucano.

O ESPLENDOR DO ESTILO BARROCO

O PREDOMÍNIO DA EMOÇÃO


Altar da Igreja dos Reis Magos - ES

Quando os portugueses se estabeleceram definitivamente no Brasil, por volta de 1600, estava entrando em vigor na Europa um estilo estético que se chamava Barroco. Os seus princípios levavam os músicos, escritores, pintores, escultores a produzir obras cheias de movimento, ornamentação e emoções contraditórias. Foi essa forma de arte que trouxeram para cá e aqui desenvolveram por mais de um século.
A arte barroca nasceu em oposição à arte renascentista, que se baseava na razão e nos modelos greco-romanos de equilíbrio e simplicidade. Vários fatores contribuíram para o clima social agitado que produzia essa arte excessivamente ornamentada.
O intenso comércio entre vários países, a colonização de novas terras, as invenções que abalavam crenças antigas, a nobreza que desejava mostrar o seu poder e o clero religioso da contra-reforma que precisava se afirmar e combater os protestantes.
Para se nomear esse estilo adotou-se a palavra portuguesa “barroco” que significa “uma pérola de formato irregular e aspecto estranho”. Os colonizadores difundiram o Barroco ao levarem artistas ao Novo Mundo. Como características fundamentais o estilo barroco apresenta:

Profunda emoção / ilusão de movimento / temática religiosa constante / excesso de ornamentos / fortes contrastes entre luz e sombra / presença de muitas curvas e dobras.

As obras normalmente feitas em madeira, pedra-sabão ou argila apresentavam aspecto brilhante ou fosco dependendo da tinta à óleo ou têmpera utilizada. Muitas eram ornamentadas com finíssimos detalhes em folha de ouro, tinham os olhos de vidro e traziam coroas de prata ou ouro. Algumas estátuas tinham pequenos cofres no corpo que serviam para o contrabando de ouro e por isso ficaram conhecidas como “santos do pau oco”.
As imagens que eram feitas para serem carregadas nas procissões tinham apenas o rosto, o pescoço e as mãos, pois a ilusão do corpo era dada por meio de roupas montadas sobre uma armação de madeira, chamadas “santos-de-roca”.
Muitas obras barrocas são anônimas, não se pode precisar quem foi o autor. Entre os escultores mais conhecidos desse período está o português Frei Agostinho da Piedade, que foi mestre do brasileiro Frei Agostinho de Jesus, também muito importante no desenvolvimento da arte desse período.

O AMBIENTE BARROCO

A pintura no período barroco apresenta em suas características o excesso de contrastes, ilusão de movimento, uso da perspectiva e abuso do claro escuro.
Entre os primeiros pintores está Belchior de Paulo que trabalhou em diversas cidades, deixando suas obras espalhadas de Pernambuco a São Paulo.


"Adoração dos Reis Magos" - óleo sobre tela - Belchior de Paulo - tela
original em restauração, ornamento do altar da Igreja dos Reis Magos - ES


O pintor francês Carlos Belleville foi o responsável pela pintura do teto da igreja de Belém da Cachoeira (1687), na Bahia. Durante o barroco as igrejas têm seus tetos revestidos por uma pintura que dá ilusão de entalhes de madeira, de profundidade, relevo e movimento.


Pintura sobre madeira - teto da Igreja do Seminário de N.Sa. do Belém - Cachoeira - BA


Os artistas também imitam com pintura os azulejos portugueses, geralmente em tons de azul. Os artistas deste período tinham múltiplas habilidades, ao mesmo tempo eram arquitetos, escultores, entalhadores, pintores e atuavam em várias partes de uma construção. Não existia ainda uma noção de “autoria”, muito valorizada hoje em dia.
Os artistas eram “artífices” ou “artesãos” que trabalhavam muito para ganhar a vida. Contavam com a ajuda de auxiliares, muitas vezes mulatos, que trabalhavam por qualquer dinheiro e ajudavam anonimamente a terminar obras que hoje têm um valor incalculável e fazem parte do patrimônio cultural da humanidade.
Como Salvador foi a primeira capital do Brasil, seus tesouros barrocos são inestimáveis. Concentrando a riqueza do período de apogeu do açúcar, foi o centro de comércio com a metrópole, Portugal, e por isso detém enorme patrimônio artístico.


Igreja da Venerável Ordem terceira de São Francisco - Salvador - BA


A igreja da Venerável Ordem terceira de São Francisco é um monumento que testemunha o deslumbramento da época. A construção do convento teve início em 1587, mas foi destruído durante as invasões. Sua construção definitiva se deu quase duzentos anos depois, em 1782.

O Aleijadinho, e o Barroco em Minas Gerais

Entre os maiores artistas desta corrente está Antônio Francisco Lisboa. Nasceu por volta de 1738, em Vila Rica, atual Ouro Preto, filho de um arquiteto português e de uma escrava. Mesmo com dificuldades, aprendeu a ler, teve noções de música e latim e estudou arquitetura e desenho com os mestres da época.
Sofreu durante anos de uma misteriosa moléstia que atrofiou seus membros, deformou suas feições, obrigou-o a andar de joelhos e, quando perdeu os dedos das mãos, a amarrar os instrumentos nos braços para esculpir a pedra-sabão e a madeira, morreu cego e pobre em 1814.




Foi o nosso maior artista do período colonial e suas criações vão de projetos inteiros de igrejas a esculturas e entalhes delicados. Foi o criador das estátuas dos profetas do Adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas do Campo, MG.

Os Desdobramentos do Barroco

Caçador Narciso - Mestre Valentim

No Rio de Janeiro destaca-se o entalhador Valentim da Fonseca e Silva, o mestre Valentim, que nasceu em Minas Gerais, mas viveu no Rio (1750-1813). Realizou projetos urbanos, chafarizes, estátuas e desenhos para execução de prataria.


Chafariz da pirâmide - Mestre Valentim


A cidade de Paraty no Rio de Janeiro também teve seu projeto urbano desenvolvido.

AS ORIGENS DO SENTIMENTO NACIONAL

O NEOCLÁSSICO


Museu Nacional - RJ

Com o passar do tempo o impulso do exagero, próprio do Barroco, começa a ser suavizado. O excesso de curvas e de expressividade vai sendo atenuado para dar lugar a uma arte mais tranqüila e equilibrada.
Gradativamente o estilo barroco vai sendo substituído pelas características neoclássicas. No século XVIII, as manifestações populares de inspiração africana como o bumba-meu-boi, os reisados e as danças típicas continuavam prosperando, mesmo contra as ordens da Igreja. Além disso, na colônia era proibido criar escolas superiores, tipografias e importar livros, pois não interessava a Portugal a emancipação cultural do Brasil.
O grande avanço ocorreu com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808. Com a presença da Corte no Rio de Janeiro, o centro das atenções e dos acontecimentos culturais e políticos se deslocam de Pernambuco, Bahia e Minas Gerais para este novo centro.
A sede da corte foi instalada no Convento do Carmo, sendo o prédio devidamente reformado e adaptado e sua capela transformada em teatro e sala de concertos. Essa mudança trouxe profundas transformações sociais, econômicas e culturais para o Brasil.
D. João VI, adaptado à nova sede do Reino, quis modernizá-la. Construiu o Teatro São João (1812), liberou o comércio, os portos, as fábricas, as tipografias e a importação de livros. Organizou a Biblioteca Real (60 mil volumes), criou o Observatório Astronômico, o Jardim Botânico e o Museu Nacional.
Toda a arte produzida no período anterior à sua chegada foi considerada ultrapassada. Coincidindo com as mudanças ocorridas na Europa onde passava a predominar o gosto pelos valores clássicos do Renascimento, na busca do equilíbrio e da simplicidade, na imitação das linhas greco-romanas. Este estilo, denominado de neoclássico ou Academicismo passa a vigorar também no Brasil.

A MISSÃO FRANCESA

O Brasil não contava com mão-de-obra qualificada para promover a modernização desejada pelo soberano. Por isso D. João VI contrata artistas franceses que desejavam sair da França, pois tinham apoiado Napoleão, que, derrotado, estava preso em Santa Helena.
A chamada Missão Artística Francesa ao Rio de Janeiro (1816) vem chefiada por Jacques Le Breton, que dirigia a Academia Francesa de Belas-Artes na França. Ele trouxe pintores, escultores, arquitetos e músicos, além de artífices, ajudantes, mecânicos, serralheiros, ferreiros e carpinteiros.
Embora os “brasileiros” tenham reagido desfavoravelmente à “invasão” de artistas estrangeiros, esses deixaram uma profunda influência na arte brasileira, principalmente na pintura, na paisagem urbana e na arquitetura. Sobressaem grandes pintores que nos deixaram uma visão detalhada dos costumes e vida da época.


"Morro de Santo Antônio" - óleo sobre tela - 1816 -  Nicolas Antoine Taunay


Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) chegou ao Brasil com a Missão (1816) e retornou à Paris em 1821. Nesses poucos anos que aqui esteve produziu inúmeros quadros com diversos temas: bíblicos, mitológicos, históricos, paisagens e retratos infantis. Deixou mais de trinta paisagens do Rio de Janeiro.


"Vista do Outeiro, Praia e Igreja da Glória" - óleo sobre tela - Nicolas Antoine Taunay


Seus dois filhos, também artistas, Félix Émile Taunay e Adrien Aimé Taunay, ficaram no Brasil. Félix chegou a dirigir a Escola de Belas Artes e organizou a Exposição Geral anual de Belas Artes.
Adrien Aimé participou de expedições, desenhou índios e morreu afogado em um rio brasileiro. Embrenhando-se pelas matas brasileiras com as expedições dos naturalistas e desenhou nossos índios, mas terminou por morrer afogado em um rio no decorrer de uma dessas viagens.


"Casamento de D.Pedro I e D.Amélia 1829" óleo sobre tela - Jean Baptista Debret

Jean Baptiste Debret (1768-1848) foi o principal pintor da Missão Francesa, pois fez um verdadeiro documentário sociológico, registrando um panorama da vida no Brasil na primeira metade do século XVIII. Produziu retratos da família real e cenas da vida cotidiana dos nobres, dos burgueses e dos escravos. Publicou três volumes de textos e ilustrações a respeito do Brasil: Viagem pitoresca e histórica do Brasil.


 Gravuras de escravas - Jean Baptista Debret

O escultor Auguste-Marie Taunay (1768-1824), irmão do pintor Nicolas Antoine, além de diversas esculturas, ornamentou o Rio de Janeiro para as festas de Aclamação de D. João VI como Rei de Portugal, Brasil e Algarve. (1818).
O arquiteto Auguste Henry Grandjean de Montigny (1776-1850) é responsável por importantes construções do período neoclássico. Seus croquis podem ser vistos no Museu Nacional de Belas Artes.


Fachada da antiga Academia Imperial de Belas Artes

A idéia de criação de uma escola de belas-artes veio com a família real e levou algum tempo para ser realizada. Em 1816 funda-se a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, que vai sofrendo transformações no decorrer do tempo.
Passa a ser chamada de Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil (1820) e Academia Imperial de Belas-Artes (1824) Finalmente, com um projeto de Montigny, é instalada com esse último nome (1826), mais tarde mudado para Escola de Belas-Artes. Tal influência estende-se por mais de um século nas artes plásticas do Brasil.


Escola Nacional de Belas Artes - nanquim


Deu origem ao Museu Nacional de Belas-Artes, que hoje ocupa magnífico prédio construído em 1909 por Adolfo Morales de los Rios, no centro do Rio de Janeiro.


Escola Nacional de Belas Artes - atual Museu Nacional de Belas Artes


O gaúcho Manuel de Araújo Porto Alegre, depois de ter sido aluno, dirigiu a Escola de Belas-Artes de 1854 a 1857. Foi professor, crítico, poeta, escritor e produziu desenhos e pinturas. Dedicou-se a caricatura e foi um dos seus pioneiros no Brasil, quando dirigiu a revista Lanterna Mágica que, além de humor e sátira, trazia conteúdo essencialmente político.
Artistas brasileiros como Zeferino da Costa, Augusto Muller e Simplício Rodrigues de Sá formaram-se sob influência de artistas franceses.

O NASCIMENTO DA FOTOGRAFIA

Em 1820, os portugueses, insatisfeitos com a possibilidade de o Brasil transformar-se para sempre na sede e metrópole do reino, fazem uma revolta no Porto, em Portugal, e obrigam D. João VI a voltar a Lisboa. D. Pedro I ficou como Príncipe Regente, mas o desenlace já era inevitável e, em 1822, proclama a Independência.
Em 1831 o soberano é forçado a abdicar em favor de seu filho D. Pedro II, que era ainda criança, dando início ao período das Regências. Nesse período surge uma nova forma de registro de imagens que viria a influenciar a pintura.
O francês Hércules Florence (1804-1879), em Campinas, imprime imagens a partir dos efeitos da luz em 1832, antes mesmo que fosse considerada inventada a fotografia.


Daguerreótipo -1839


Em 1840, o abade francês Louis Compte introduz a daguerreotipia no Brasil, realizando uma série de três vistas das cercanias do Paço Imperial, na cidade do Rio de Janeiro.


Foto: Paço da Cidade do Rio de Janeiro - Louis Compte - 1840


Entusiasmado com a nova invenção, o Imperador D. Pedro II, então com 15 anos de idade, encomenda um equipamento de Paris, tornando-se assim o primeiro brasileiro nato a praticar a fotografia. Mais tarde torna-se um verdadeiro mecenas dessa arte, atribuindo títulos e honrarias aos principais fotógrafos atuantes no país, além de se tornar um grande colecionador. Formou a maior coleção particular de fotografias e a mais diversificada de sua época.

O AMBIENTE DO SÉCULO XVIII

Em Recife, o neoclassicismo deixou também as suas marcas. O Conde de Boa Vista contratou Louis Leger Vauthier, que construiu o Teatro Santa Isabel.
Joaquim Cândido Guillobel (1790-1860), pintor português que veio ao Brasil junto com a Missão Francesa, documentou, em desenhos pequenos, tipos e costumes da sociedade da época.

A PRESENÇA DOS CIENTISTAS

Além dos artistas vindos com a Missão Francesa, muitos outros estrangeiros trabalharam no Brasil. A arquiduquesa Leopoldina, que veio para se casar com D. Pedro I, trouxe em sua comitiva diversos cientistas austríacos. Esses naturalistas, interessadíssimos na natureza tropical, além de desenharem, traziam outros artistas que registravam a paisagem, a fauna e a flora.
Os cientistas Karl Friedrich Phillip Von Martius e Johan Baptist Von Spix, deixaram diversos desenhos de suas expedições pelo interior do Brasil. Outras expedições científicas de estrangeiros e brasileiros viajaram pelo interior do país, produzindo obras de grande valor descritivo e iconográfico.
O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, de 1816 a 1822, percorreu grande extensão do território brasileiro, pesquisando e desenhando a flora. Já denunciava em seus trabalhos a devastação da natureza.
Em 1821 o naturalista alemão Georg Heinrich Von Langsdorff, cônsul da Rússia no Brasil, comanda viagens a Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Amazonas e Pará. Participam delas pintores como Hércules Florence, Adrien Haiti Taunay, Johann Mortes Rugendas e Edward Hildebrandt. Rugendas fez expedições independentes e publicou o livro Viagem Pitoresca no Brasil.
Como vimos, a presença estrangeira define a produção artística no Brasil nesse período e o Rio de Janeiro é o grande centro cultural, o que causa insatisfação nas outras regiões. Ainda não existe uma arte genuinamente brasileira, mas o sentimento nacional e o desejo de autonomia inspiram alguns artistas locais.
A imitação de modelos clássicos começa a decair no gosto dos artistas e do público e uma nova transformação se anuncia, mas a influência do academicismo ainda perdura por muito tempo, principalmente na pintura.

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL

O ROMANTISMO

O estilo acadêmico e rígido do Neoclassicismo começa a declinar e vem uma reação às regras e modelos clássicos greco-romanos. Há necessidade de expressão, de emoção, de paixão.
O equilíbrio e a simplicidade deixam de ser os objetivos do artista. Ele quer demonstrar outros interesses, buscar as raízes da nacionalidade, enaltecer a natureza tropical, voltar ao passado histórico, abandonar os mitos gregos, aprofundar sua própria religiosidade e viver o amor intensamente.
Depois da independência (1822) e da Abdicação (1831), os acontecimentos pela consolidação do Brasil como nação autônoma levam à abolição da escravatura (1888) e à proclamação da República (1889). Toda essa turbulência política se reflete no ânimo dos artistas, que procuram, mesmo influenciados ainda pela Europa, uma linguagem nacional. D. Pedro II trona-se um grande patrocinador e incentivador dos artistas.
Com a chegada do Romantismo, que introduz o indianismo (idealização da figura do índio), o nacionalismo nas cenas épicas e subjetivismo nas paisagens, a pintura histórica atinge o auge.
Victor Meirelles (1832-1903), um dos principais pintores brasileiros desse período, nasceu em Florianópolis, transferiu-se para o Rio em 1847 e estudou na Academia de Belas-Artes. Ganhou um prêmio de viagem à Europa e dedicou-se à pintura de paisagens.
O paraibano Pedro Américo (1843-1905), aos 10 anos de idade, abandonou sua cidade, Areia, e integrou-se já como desenhista, à expedição do naturalista francês L. J. Brunet, que passava pela Paraíba. Seu extraordinário talento demonstrado na Academia de Belas-Artes assegurou-lhe uma viagem de estudos à Europa. Viveu temporadas em Paris e em Florença, onde faleceu. Fez magníficas obras históricas por encomenda do governo brasileiro.
Assim como Pedro Américo, Rodolfo Amoedo (1857-1941) estudou na Escola de Belas Artes e depois esteve na Europa para aperfeiçoar-se.
Almeida Júnior (1850-1899), com estilo ainda bastante acadêmico, inovou na temática, com cenas da vida rural.

O AMBIENTE DO ROMANTISMO

A publicação de diversos jornais e revistas por todo o país, fez com que surgissem vários caricaturistas que colaboravam com suas ilustrações. Revistas como: Buscapé (1831), Lanterna Mágica (1844), A caricatura (1951) e O Mosquito (1876), entre outras, fizeram muito sucesso em suas épocas.
Um destes caricaturistas foi Angelo Agostini, comentarista político e precursor das histórias em quadrinhos brasileiras.
Em 1874 chega ao Rio de Janeiro o pintor alemão Johann Georg Grimm (1846-1887). Ele exerce profunda influência na pintura de paisagem, que não era tão considerada até sua chegada. Com seu trabalho, a pintura acadêmica foi se flexibilizando e aceitando temas que não fossem históricos ou heróicos, tornando a paisagem uma obra de arte maior.

REALISMO / NATURALISMO

As modificações políticas sempre trazem transformações estéticas e culturais. Com a abolição da escravatura (1888), o fim do Império e a proclamação da República (1889), as novas idéias influenciaram a arte, que se torna mais realista e naturalista.
A filosofia positivista é um fundamento teórico que inspira essa orientação. Esse período é conhecido também como Belle Époque, pois a influência da cultura francesa era muito intensa. Aconteceram muitas exposições internacionais em que as novas tendências eram lançadas e em que os artistas brasileiros se destacavam.
A exposição internacional de 1878 consagrou o Impressionismo, a de 1889 representou o triunfo dos simbolistas e em 1900 o Art Noveau entrou em cena.
Os padrões acadêmicos na pintura e o desejo de focalizar a realidade fazem com que a pintura e escultura sofram poucas modificações.
Rodolfo Bernadelli (1852-1931) foi professor e dirigiu a Escola de Belas-Artes até 1915. Deixou inúmeros monumentos grandiosos.
Benedito Calixto (1853-1927) estudou na Europa, mas não assimilou novas influências e continuou o estilo acadêmico em suas marinhas, seus quadros religiosos e cenas históricas.
Na virada do século, a liberdade de expressão permite o desenvolvimento da caricatura, tornando possível o surgimento da primeira caricaturista brasileira: Nair de Teffé, mais tarde primeira dama do Brasil ao casar-se com Hermes da Fonseca.
Já Belmonte destaca-se na caricatura de tipos paulistanos.

AS ORIGENS DA MODERNIDADE

Nas artes plásticas, a transição entre o Academicismo e o Modernismo é representada pelos trabalhos de Belmiro de Almeida (1858-1935) e de Eliseu Visconti (1866-1944), que começam a usar as técnicas impressionistas. Passa a haver a recusa aos modelos renascentistas, a negação da linha, a ênfase da luz e cores e  a incorporação do pontilhismo.
Visconti era italiano e veio com seus pais para o Brasil com menos de um ano de idade. Estudou na Escola de Belas-Artes aperfeiçoou-se em Paris e na volta, foi autor da decoração do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Além da pintura de retratos, paisagens, cenas urbanas e familiares, dedicou-se ao desenho e à produção de cartazes e de vinhetas publicitárias. O delineamento do desenho dá lugar aos efeitos cromáticos da luz tornando a pincelada mais solta.
Nos primeiros anos do século XX, estes artistas começam uma aproximação entre a arte e a indústria, por meio das artes aplicadas, entre elas, cerâmica, decoração, artes gráficas, mobiliário, o que é um dos deflagradores da modernidade. Nesse período, em um ambiente dominado por homens, destacou-se uma mulher de grande talento: Georgina de Albuquerque (1885-1962). Foi considerada uma das expressões da pintura impressionista brasileira.

A MODERNIDADE

A PROSPERIDADE ECONÔMICA E A ARTE

A mudança do século e a prosperidade na agricultura do café promovem o enriquecimento das metrópoles, principalmente São Paulo. Surgem as fábricas, muitos imigrantes da Itália, França e Alemanha vêm trabalhar nas fazendas e indústrias. Sua influência se faz sentir em todos os aspectos da cultura. O contato com o que acontece na Europa é mais estreito e as influências são imediatas.
A primeira aproximação do público paulista com a arte expressionista foi promovida pelas exposições, em 1913, de Lasar Segal (1891-1957), pintor lituano que se transferiu para o Brasil, e, em 1917, de Anita Malfatti (1896-1964), que estivera em Paris.
Em relação à arte acadêmica, as diferenças eram evidentes, com pinceladas mais livres, cores intensas e expressividade maior. Os temas brasileiros são valorizados, com suas lendas, costumes urbanos e rurais e suas gentes.
No campo da arquitetura, na virada do século 20, o arquiteto francês Victor Dubugras, radicado no Brasil, desenvolve projeto perfeitamente sintonizado com a experimentação do Art Noveau, praticando obras com a mesma desenvoltura modernista européia. Em toda a construção ele deu inteira preferência às formas de estrutura real, com os materiais francamente expostos dando caráter honesto e racional à construção.
A partir de 1919 uma nova tendência de arquitetura começa a surgir como uma volta às origens brasileiras recebendo a denominação de neocolonial, inspirada na arquitetura tradicional brasileira.
Durante a Exposição do Centenário da Independência em 1922, no Rio de Janeiro, alguns dos principais pavilhões foram projetados dentro do espírito neocolonial. Um de seus maiores expoentes foi o arquiteto Georg Przyrembel

A SEMANA DE ARTE MODERNA E OS MODERNISTAS

Monteiro Lobato escreveu um artigo escandalizado a respeito de Anita Malfatti e daquilo que se anunciava para as artes plásticas, com o título: Paranóia ou mistificação?
Os modernistas ficaram assustados com a reação, uniram-se para defender Anita e se apresentaram em grupo, numa semana inteira de espetáculos e exposições. Era a famosa Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Pintores, escultores, músicos, arquitetos escritores reuniram-se e mostraram o que se fazia de mais moderno. Entre eles estavam Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Oswaldo Goeldi, Victor Brecherret, Villa Lobos, Guiomar Novaes, Ribeiro Couto, Ronald de Carvalho, Graça Aranha, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia, que se uniram e fizeram uma provocação à arte acadêmica, na busca do novo e de uma expressão genuinamente brasileira, embora inspirada nos impulsos libertadores europeus.
Muitos grupos diferentes foram surgindo, com propostas às vezes divergentes, mas sempre ligadas à idéia de modernidade. Assim, surgem inúmeros manifestos que propunham programas estéticos, entre os quais os mais importantes foram o Manifesto Pau-Brasil (1925) e Manifesto Antropofágico (1928).
A Antropofagia foi um movimento que propunha a incorporação transformada e abrasileirada das influências estrangeiras. O escritor Oswald de Andrade e sua mulher Tarsila do Amaral lideraram estas idéias, que tinham também um cunho político e social.

O AMBIENTE MODERNISTA

Juntamente com a música de Villa Lobos, a instalação da rádio, a popularização do disco, de Pixinguinha, Carmem Miranda, além do cinema com a Cinédia e a Atlântida, a pintura moderna brasileira assume inicialmente um figurativismo com características mais expressionistas, temas regionalistas e preocupação social.
Destacam-se pintores que estiveram na Europa e trouxeram influências da arte que se fazia lá, como Cândido Portinari, Osvaldo Goeldi, Ismael Nery e Alberto da Veiga Guinard.

Portinari

Nasceu em Brodósqui, no interior de São Paulo, mas passou a juventude no Rio. Premiado com uma viagem à Europa, em 1928, tem contato com os modernistas europeus, dos quais recebe profunda influência, como é o caso do espanhol Pablo Picasso.
Sua pintura, inicialmente tradicional, modifica-se, passando por diversas fases. Seu trabalho foi perdendo o traço de fidelidade à realidade para adquirir, pela distorção do desenho, maior expressividade e comunicação imediata com a sensibilidade.
Dos temas trazidos da infância em Brodósqui e do cotidiano popular alcançou os temas sociais em que se destacou, influenciando muito outros pintores. Pintou os ciclos econômicos brasileiros, os tipos regionais, temas bíblicos, retirantes, imigrantes, assuntos históricos, cenas com crianças, retratos etc... Portinari pintou no Brasil e no exterior grandes murais. Produziu durante sua vida mais de 5 mil trabalhos.

Oswaldo Goeldi

Seu trabalho em xilogravura, litografia, desenho e aquarela destaca-se no panorama da arte brasileira. Sua obra retrata de forma crítica os aspectos da injustiça social do Brasil, como a morte, a pobreza, os subúrbios e a solidão.

Ismael Nery

Morreu ainda jovem, sendo um dos primeiros e mais representativos pintores ligados ao surrealismo, movimento que busca sua temática no inconsciente, nos sonhos, nos delírios. Em sua obra sobressai a presença da imaginação criativa.

Alberto Guignard

Depois de estudos na Europa, retorna ao Brasil em 1929 influenciado por Cézanne, Matisse e pelos pintores surrealistas que lá conheceu. Convidado por Juscelino Kubtschek, vai para Belo Horizonte, onde produz significativa obra focalizando as paisagens de Minas Gerais.

José Panceti

Os artistas que trabalhavam solitariamente começam a se reunir por afinidades estéticas em grupos e associações. Assim, organizam salões e exposições.
A pintura feita ao ar livre no Rio de Janeiro, com trabalhos que retratam o subúrbio e a paisagem litorânea, dá origem ao Núcleo Bernadelli, no qual se destaca, entre outros, José Panceti (1904-1958).

Lasar Segall

Em 1913, Segall vem pela primeira vez ao Brasil, expondo em São Paulo e Campinas, onde percebe-se já em sua obra uma forte influência do expressionismo. No ano seguinte Segall seria internado em um campo de concentração, experiência que iria representar mais tarde em suas obras inspiradas pela Segunda Guerra.
No início dos anos 20 Lasar Segall instala-se definitivamente no Brasil, naturalizando-se depois de casar com Jenny Klabin, em 1925. A partir daí passa a ser uma das peças centrais do Modernismo, atuando como um contraponto alemão às influências francesas.
É neste período que começam a surgir temas brasileiros em sua obra, as personagens são agora mulatas, negros, marinheiros e prostitutas. Tem grande participação na vida cultural paulista deste momento, fundando a Sociedade Paulista de Arte Moderna (SPAM), em 1932. Além disso, passa a dar aulas e influencia toda uma geração de gravadores brasileiros.

Alfredo Volpi

Pintor nascido em Lucca, Itália. Veio com a família ao Brasil, fixando-se em São Paulo. Exerceu vários ofícios, inclusive o de decorador de interiores. Em 1914 executa sua primeira obra. Sua pintura caracteriza-se, até 1930, pela aproximação naturalista das formas e cores, resolvidas de maneira impressionista ou expressionista.
Pertencente a um grupo de artistas vindos da classe operária, tem como tema principal a paisagem, a natureza morta, os casarios populares, as festas e as quermesses. Fez parte do Grupo Santa Helena, desenvolvendo a partir de então um cromatismo mais vívido, em detrimento da textura, quase translúcida.

Clovis Graciano

Pintor, desenhista, cenógrafo, gravador e ilustrador, muda-se para a cidade de São Paulo em 1934. Até então praticava desenho como autodidata, mas, após contato com o pintor Candido Portinari (1903-1962), passa a freqüentar o ateliê de Waldemar da Costa (1904-1982) e a cursar desenho na Escola Paulista de Belas Artes.
Em 1937, instala-se no Palacete Santa Helena integrando o Grupo Santa Helena, com Francisco Rebolo (1902-1980), Mario Zanini (1907-1971) e Bonadei (1906-1974), entre outros. Membro da Família Artística Paulista, em 1939 é eleito presidente do grupo.
Em 1949, com o prêmio obtido no Salão Nacional de Belas Artes viaja para a Europa. Em Paris, estuda pintura mural e gravura. A partir dos anos 50, dedica-se à pintura mural.

Francisco Rebolo

Foi um pintor brasileiro, filho de imigrantes espanhóis que chegaram ao Brasil no fim do século XIX. Fez parte do Grupo Santa Helena e é considerado um dos mais importantes paisagistas da pintura brasileira.
Sua a obra, com um total estimado superior a 3.000 pinturas, centenas de desenhos e um conjunto de cinqüenta diferentes gravuras, de variadas técnicas, além das paisagens, envolve também como temática um expressivo conjunto de retratos, figuras, naturezas-mortas e flores.
Hoje, os trabalhos de Rebolo estão nos principais museus brasileiros, no acervo de órgãos culturais e governamentais e em coleções particulares em todo o Brasil.

Lívio Ábramo

Foi um gravador, desenhista e pintor brasileiro de renome internacional. Trotskista e militante sindical torna-se membro da Oposição de esquerda Internacional no Brasil, liderada por Leon Trotski.
Realiza suas primeiras gravuras em 1926 quando, bastante influenciado pelos temas humanos e sociais do expressionismo europeu, introduz no Brasil a gravura moderna. Viajou para a Europa com o prêmio de viagem do Salão Nacional de Arte Moderna de 1950, onde conheceu o não-figurativismo, que traduziu para uma linguagem pessoal. Esse estilo ficou mais patente na série Festa, iniciada em 1954 e um dos momentos mais ricos de sua carreira.
Casado com Anna Stefania Lauff, filha do militante comunista húngaro Rudolf Josip Lauff, membro do Exército Vermelho da URSS, atuando no trem blindado de Leon Trótski, durante a guerra civil.

Carlos Scliar

Foi um destacado desenhista, gravurista, pintor, ilustrador, cenógrafo, roteirista e designer gráfico. Judeu brasileiro participou constantemente de exposições no Brasil e em todos os centros artísticos mundiais, registrando sempre absoluto sucesso.
Ativista social, engajou-se em vários movimentos, como o 1º Congresso da Juventude Democrática, na Tchecoslováquia e em manifestações brasileiras, seja produzindo cartazes, seja ilustrando livros e revistas.
Gravurista por opção apaixonou-se pela serigrafia, em cuja técnica desenvolveu várias séries. Aliás, uma das importantes características de Carlos Scliar era a sua capacidade de inovar, buscando novos materiais que lhe servissem de base e técnicas as mais variadas, desde têmpera até o acrílico, passando pelas artes gráficas. Pintou quadros, mas também fez murais e até ilustrou vários bilhetes da Loteria Federal, premiados com sua arte.

Djanira

Nasceu em Avaré e aos 23 anos, é internada com tuberculose no Sanatório Dória, em São José dos Campos onde fez seu primeiro desenho: um Cristo no Gólgota. Mais tarde freqüenta, à noite, o curso de desenho no Liceu de Artes e Ofícios tendo contato com vários artistas importantes da época.
Em 1943 realiza sua primeira mostra individual e em 1945 viaja para Nova York, onde conhece a obra de Pieter Bruegel e entra em contato com Fernand Léger, Joan Miró e Marc Chagall. Entre 1953 e 1954, viaja a estudo para a União Soviética.
A sua pintura dos anos 40 é geralmente sombria, utiliza tons rebaixados, como cinza, marrom e negro, mas já apresenta o gosto pela disciplina geométrica das formas.
Na década seguinte, sua palheta se diversifica, com uso de cores vibrantes, e em algumas obras trabalha com gradações tonais que vão do branco ao cinza-claro. Apresenta em seus tipos humanos uma expressão de solene dignidade.

Aldemir Martins

Nasceu no dia 8 de novembro de 1922 em Ingazeiras, Vale do Cariri, Ceará. Desenha desde menino. No colégio militar, torna-se monitor de desenho de sua classe.
No início dos anos 40, cria juntamente com outros artistas os Grupos Artes e a SCAP - Sociedade Cearense de Artistas Plásticos, responsáveis pela renovação do ambiente artístico cearense. Em 1942 expõe, pela primeira vez, no II Salão de Pintura do Ceará.
Transfere-se em 1945, para o Rio de Janeiro, onde participa de uma coletiva na Galeria Askanasi e do Salão Nacional de Belas Artes. Um ano depois está em São Paulo onde realiza sua primeira individual, na seção paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil.
Em 1947 é convidado a participar da exposição "19 Pintores", que marca a emergência de uma nova geração de artistas brasileiros. Desde então, Aldemir Martins participa ativamente do movimento artístico brasileiro.

Cardosinho

Os artistas populares, que não têm formação acadêmica e não vêm das elites, começam a ser descobertos e valorizados. Foi o caso de Cardosinho, um professor que começa a pintar por lazer, depois da aposentadoria aos setenta anos, tornando-se conhecido e produzindo mais de seiscentos quadros.

Heitor dos Prazeres

Foi inicialmente músico popular, compositor, instrumentista e letrista, tendo composto junto com Noel Rosa. Com a morte da esposa em 1936, da paixão e tristeza de Heitor dos Prazeres surgiu uma nova maneira de se expressar artisticamente.
O compositor descobriu o pintor ao ilustrar, através de um desenho colorido, sua mais nova criação musical: O pierrot apaixonado. Em 1937 começou a se projetar como pintor, participando de exposições, sempre incentivado pelos amigos. Começava assim a dupla atividade de sambista e pintor.
“A PRIMEIRA BIENAL DE ARTE MODERNA”, em São Paulo. Incentivado novamente pelo amigo, jornalista e crítico de artes Carlos Cavalcante a participar desse evento de arte de repercussão internacional, que reuniu, em 1951, artistas de várias expressões do Brasil e do mundo, proporcionando uma grande alegria na sua carreira com a contemplação do terceiro prêmio para artistas nacionais através do quadro intitulado Moenda.

VOLTANDO AO AMBIENTE MODERNISTA

No fim da primeira metade do séc.XX acontecimentos importantes marcam a entrada do Brasil no circuito internacional das artes. Em 1947, o empresário de comunicações, Assis Chateaubriand funda o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Seu significativo acervo, arrecadado entre os grandes empresários e políticos da época, abrange desde os góticos italianos até os mestres do Impressionismo francês.
O Museu da Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) é fundado em 1948 pelo industrial de origem italiana Francisco Matarazzo Sobrinho. Logo em seguida é criado o Museu da Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ).
Em 1951, realiza-se a primeira Bienal Internacional de São Paulo, marcando a presença do abstracionismo na pintura e escultura do país. O Brasil passa a ser parte da grande corrente de países que produzem, participam das mostras internacionais e exibem sua arte em outros países do mundo, como forma de reafirmar sua identidade e a força do seu imaginário.
Após a Semana de 22, também a Arquitetura tomou novos rumos no Brasil. O arquiteto russo Gregori Warchavchik projetou a Casa Modernista (1929-1930), a primeira casa em estilo Moderno construída em São Paulo. Em Belo Horizonte, Oscar Niemeyer projeta a Igreja da Pampulha.
Cerca de quarenta anos se passaram desde os primeiros arranha-céus construídos em Chicago e as primeiras tentativas de gênero no Brasil. Em São Paulo o imigrante italiano Giuseppe Martinello ergueria em 1929 um arranha-céu com 25 andares e 105,65 m de altura (Ed. Martinelli). Em 1930 era concluído no Rio de Janeiro o edifício A Noite com 24 andares e 102,5 m de altura. Diferentemente dos norte americanos nossos edifícios eram em concreto armado.
Com a implantação do Estado Novo, a arquitetura vai sofrer também as influências das doutrinas totalitárias, principalmente do fascismo italiano, tendo como exemplo o projeto de reforma do antigo Ministério da Guerra no Rio de Janeiro de autoria do arquiteto Stockler das Neves de 1939.
A seguir surgirá uma nova geração de arquitetos que se tornará reconhecida em todo o mundo por desenvolver projetos arrojados e inovadores de acordo com as novas tendências do modernismo. Entre outros podemos destacar os irmãos M. Roberto, Lúcio Costa Affonso Eduardo Reidy e Oscar Niemeyer.

TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

A ABERTURA PARA O MUNDO

Alguns fatores representaram uma grande transformação na arte brasileira na metade do século XX. O funcionamento de grandes museus interessados nos movimentos da arte moderna representou uma abertura às novas tendências desenvolvidas em outros países.
A realização da 1a Bienal Internacional de São Paulo colocou o Brasil no circuito internacional de acontecimentos ligados às vanguardas, ou seja, às artes renovadoras. A presença do escultor suíço Max Bill nesta exposição trouxe o predomínio das formas abstratas, que passam a ser dominantes sobre as figurativas.
O Museu da Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) instala-se definitivamente, em 1958, no magnífico prédio projetado por Affonso Eduardo Reidy, com jardins de Roberto Burle Marx.
Embora continuem a existir diversas formas de expressão, o abstracionismo tomou lugar de destaque. Surgem artistas como Mary Vieira, Wega Nery e Anna Bella Geiger.
O experimentalismo e o abstracionismo despontam também na escultura com os trabalhos de Bruno Giorgi, Francisco Stockinger, Antônio Bandeira e Fayga Ostrower. Há também grande desenvolvimento da xilogravura nas obras de Marcelo Grasman, Renina Katz, Gilvan Samico e Rubem Grilo.

O SÉCULO XX.

Entre os anos 50 e 60 há muita inquietação intelectual e uma grande diversidade de tendências: são os ismos. Também sob a influência de Max Bill, premiado na Bienal, surge o concretismo, movimento abstrato que propõe um trabalho rigoroso com a geometria guiada pelo raciocínio.
É criado a partir do grupo Ruptura (SP), formado por Valdemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Hermelindo Fiaminghi, Luis Sacilotto e os poetas Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari.
O neoconcretismo, baseado no grupo Frente (RJ), reage ao rigor formal da arte concreta e busca aproximação com a op art (arte ótica) e a arte cinética, produzindo pinturas, esculturas e objetos nos quais a presença da luz, dos efeitos do movimento e a incorporação do espaço como formas de expressão são os temas principais. São manifestações que simbolizam um mundo precário, instável, em constante transformação.
Com um número restrito de elementos, o artista promove relações e estruturas, a partir das quais o observador passa a interagir com a obra, movimentando-a, entrando nela, vestindo-a. Um dos representantes mais importantes dessa tendência é Hélio Oiticica com seus Parangolés que antecipam em alguns aspectos o que viria a ser chamado de instalações. Destacam-se também Athos Bulcão, Amilcar de Castro, Ivan Serpa, Franz Weissmann,Lygia Clark e Lygia Pape.
A principal tendência abstrata dos anos 60 passa a ser o informalismo, que produz a expressão de grande pureza e de efeito lírico. Entre os principais artistas estão Manabu Mabe, Tomie Ohtake, Arcângelo Ianelli, Tikashi Fukushima, Flávio Shiró, Emanoel Araújo e Maria Bonomi.
A figuração volta a provocar o interesse de um grupo de pintores que usam imagens buscadas nos meios de comunicação para produzir uma arte politicamente engajada e narrativa. São representativas deste período as obras de: Wesley Duke Lee, Antonio Henrique Amaral, Nelson Leirner, Rubens Gerchman e João Câmara.
Durante os anos 70, com a ditadura militar, houve censura às artes mas mesmo assim surgem manifestações de grande força estética.
Nas artes plásticas ao mesmo tempo em que se acentua a defesa da arte conceitual, com a idéia se tronando o centro do fazer artístico, são desenvolvidos também novos meios e tecnologias como o grafite, a instalação, a arte postal e a arte ambiental que modifica e se relaciona com elementos da paisagem natural, principalmente por meio da escultura e da instalação, além da performance que executa uma ação espontânea ou teatral, podendo envolver a participação do público.

A ARTE POPULAR

Passa a ser valorizada pelas bienais de São Paulo e pelas grandes exposições, como a dos 500 anos (2000). Artistas populares compõem um conjunto variado de manifestações fincadas na alma brasileira. Fibras, penas, madeira, tintas, cerâmica, tecidos, metais, conchas, pedras e uma infinidade de materiais servem ao imaginário popular.
Geralmente provenientes do mundo rural, sem muita escolaridade, os artistas deixam em suas obras reflexos da religiosidade, da imaginação, dos mitos, das crenças, dos desejos, dos medos, dos sonhos que constituem seu universo.

NOVAS TENDÊNCIAS PARA O SÉCULO XXI

Nas artes plásticas contemporâneas o Neo-Expressionismo é a influência dominante a partir dos anos 90 e resgata os meios tradicionais, como a pintura.
As tendências figurativas se fortalecem, apesar da forte presença do abstracionismo e da arte conceitual. Com o desenvolvimento da tecnologia, a vídeo-arte torna-se importante.
A intervenção urbana desenvolve-se, estabelecendo relações entre o espaço e a obras de arte.
Tendências do pós-modernismo ganham força, com a apropriação e a constante releitura da história, a simulação de situações aproximadas a arte e o mundo real e a desconstrução da obra artística, que discute o significado da imagem numa sociedade de cultura de massa.
Novas tecnologias permitem uma arte multiculturalista, que absorve influências e interliga diversas linguagens, como a fotografia, o vídeo e a pintura. Surgem artistas que lidam com o conceito e se utilizam de vários suportes.
A informatização abre novas possibilidades de globalização da arte e a tecnologia traz estímulos infinitos com a utilização da Internet. Até mesmo as exposições e o suporte material da arte começam a ser rediscutidos.
Os artistas não se organizam mais em grupos para desenvolverem uma proposta conjunta. Cada carreira tem sua trajetória particular, específica e pessoal. A individualidade é um valor que dificulta a caracterização em estilos.
A descontinuidade, a ruptura, o efêmero, o descartável, o transitório se incorporam definitivamente ao fazer artístico, cujo produto tem duração restrita. Muitas vezes o público acostumado à arte tradicional se sente perplexo diante dessas manifestações e experiências que exigem sua participação, envolvimento e até mesmo sua co-autoria. Essa arte, que se oferece mais ao pensamento que ao olhar, propõe uma nova forma de fruição, não está voltada ao passado, mas sim para o momento presente e para o devir, ou melhor dizendo, para o vir-a-ser.


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